Eu tenho tantos sentimentos me afogando a alma,
tanto a falar, tanto a escrever.
É como se o mundo girasse continuadamente ao contrário
e tudo que ia para algum lugar se acumulasse num espaço só,
sem ir, sem voltar, parando e estagnando o caminhar, o ir e o voltar.
Eu percorro linhas e palavras e fico medindo as histórias
que eu tanto acreditei e que teci momentos e tomei decisões sobre.
As coisas que nunca foram ditas e eu deduzi,
as que foram e não são verdades,
as que não foram e pairam no ar.
Das tantas vezes que falavas de mim e era de ti que falavas
e das tantas que dizias ser de ti
e era de mim que amealhavas palavras.
Nossos mundos se misturaram e, muitas vezes,
o furor dos sentimentos atropelaram minhas cartas,
a ânsia em te fazer saber o que eu pensava,
o que eu carregava no coração prejudicaram
nossa comunicação estelar.
Digo estelar porque não é desse mundo esse amor,
não é dessa vida esses sentires e viveres que construíram nossa história.
De fato eu não mudei.
Continuo enfiando os pés pelas mãos,
continua afastando você de mim,
enfastiando-te, cansando-te de minhas chorumelas.
Talvez, talvez eu deveria fazer
o que tantas e tantas vezes aspirei e prometi. Calar.
Mas não consigo. Ia morrer sufocada de palavras,
sufocada por sentimentos.
Mas tenho aprendido, tenho avançado em algumas coisas.
Parei de escrever amiúde, parei de olhar todos os dias
a caixa do correio no portão,
posso ficar dias sem ler um livro de poemas do Sol...
Não sei o que isto significa, mas penso que estou me igualando à você.
Estou me tornando igual.
Você não precisa desesperadamente de mim, mas eu sim,
preciso desesperadamente de mim e de você
para ser, para viver, para ter felicidade.
E acho que esse é o meu pecado,
precisar desesperadamente de mim, de você,
porque isso me faz frágil, me faz cativa de ti,
dos meus sentimentos por você.
É como um vício que a gente não consegue largar,
como um mote de passagens e travessias
que a gente precisa sempre de novo passar, viver, carregar.
Eu vejo a história se repetir, a nossa. Vejo ela se repetir.
Eu sempre correndo atrás de ti e você me ensinando a ser forte
e a aprender a viver sem você -
porque você consegue viver sem mim com tranquilidade,
com paz, com sabedoria.
Mas eu preciso aprender a fazer isso. Eu não sei...
Mas você me ensina e, às vezes, como ontem, eu penso: estou aprendendo...