Maria
Prosa e Poesia
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Textos

Você me ensina

Eu tenho tantos sentimentos me afogando a alma,

tanto a falar, tanto a escrever.

É como se o mundo girasse continuadamente ao contrário

e tudo que ia para algum lugar se acumulasse num espaço só,

sem ir, sem voltar, parando e estagnando o caminhar, o ir e o voltar.

 

Eu percorro linhas e palavras e fico medindo as histórias

que eu tanto acreditei e que teci momentos e tomei decisões sobre.

As coisas que nunca foram ditas e eu deduzi,

as que foram e não são verdades,

as que não foram e pairam no ar.

Das tantas vezes que falavas de mim e era de ti que falavas

e das tantas que dizias ser de ti

e era de mim que amealhavas palavras.

 

Nossos mundos se misturaram e, muitas vezes,

o furor dos sentimentos atropelaram minhas cartas,

a ânsia em te fazer saber o que eu pensava,

o que eu carregava no coração prejudicaram

nossa comunicação estelar.

Digo estelar porque não é desse mundo esse amor,

não é dessa vida esses sentires e viveres que construíram nossa história.

 

De fato eu não mudei.

Continuo enfiando os pés pelas mãos,

continua afastando você de mim,

enfastiando-te, cansando-te de minhas chorumelas.

 

Talvez, talvez eu deveria fazer

o que tantas e tantas vezes aspirei e prometi. Calar.

Mas não consigo. Ia morrer sufocada de palavras,

sufocada por sentimentos.

 

Mas tenho aprendido, tenho avançado em algumas coisas.

Parei de escrever amiúde, parei de olhar todos os dias

a caixa do correio no portão,

posso ficar dias sem ler um livro de poemas do Sol...

 

Não sei o que isto significa, mas penso que estou me igualando à você.

Estou me tornando igual.

Você não precisa desesperadamente de mim, mas eu sim,

preciso desesperadamente de mim e de você

para ser, para viver, para ter felicidade.

 

E acho que esse é o meu pecado,

precisar desesperadamente de mim, de você,

porque isso me faz frágil, me faz cativa de ti,

dos meus sentimentos por você.

É como um vício que a gente não consegue largar,

como um mote de passagens e travessias

que a gente precisa sempre de novo passar, viver, carregar.

 

Eu vejo a história se repetir, a nossa. Vejo ela se repetir.

Eu sempre correndo atrás de ti e você me ensinando a ser forte

e a aprender a viver sem você -

porque você consegue viver sem mim com tranquilidade,

com paz, com sabedoria.

Mas eu preciso aprender a fazer isso. Eu não sei...

Mas você me ensina e, às vezes, como ontem, eu penso: estou aprendendo...

Maria
Enviado por Maria em 22/04/2023
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