Não existe tempo quando se ama. Não existe o momento ideal.
O amor é atemporal e gira por entre as emoções que nos tomam
e fazem, muitas vezes, perder o ar para respirar.
Também vivo a vida das veias latentes e pulsantes,
dos cheiros e cores que nos precipitam a sonhar
e a embalar palavras na ponta dos dedos,
para a alma o coração inteiro, explicitar.
E o poema se constrói na carne viva e dilacerada de sentires e sentidos.
E dança o corpo. E dança o coração ao sereníssimo do piano,
às emoções latentes de um violino em seu pizzicato interior
trazendo em seu colo um vibrato de cordas que choram,
mas que riem ao mesmo temo,
glissando vida na "alma" do corpo que os braços e coração,
apaixonadamente, abraçam.
E grita o corpo à dor uivante e lacrimosa de Pathétique!
Quantos choros augustaram a alma em ebulição?
E as lágrimas que feriram os dedos
e em gotas de sangue ainda escorrem
em cada nota de sua partitura?
É em meio a esse mar de emoções confllitantes e contrastantes
que um poema se desenha na tarde entardecente para falar de amor...
Para falar do toque de sofrimento e dor que o envolve,
do toque de loucura que lhe entranha a alma,
do toque de paixão que lhe domina o ser...
A alma Pathétique se entrega, plena,
se entrega inteira no poema vestido do ardor do amar,
no adagio de allegro non troppo que nasce no meu coração
nas passagens sombrias, lentas e rápidas da melodia de palavras...
e voa para o teu como um pássaro de fogo e luz...
A alma Pathétique se entrega, suave,
no allegro con grazia que me toma o ser,
causa movimento,
sonda a alegria,
mas não me entrega a sensação
do destino buscado que acalma e tranquiliza...
Amplia as ânsias, dilata desejos...
e se finda num imensurável carrossel
de emoções latentes e crepitantes
de ânsias e desejos mal curados.
de um coração que clama pelo teu
em angústia e desespero de amor...
A alma Pathétique se entrega, liberta,
no molto vivace, na marcha (in)triunfante
que, nem pelo tempo, nem pelo espírito, conquista a paz tão esperada,
mas que num tranco forte e autobiográfico explicita a instabilidade,
o frágil equilíbio em que repousa a felicidade
e o tenebrosamente (in)lúcido destino ao qual,
completa e intensamente, nos abandonamos ao amar.
Na metáfora da vida, em molto vivace,
parece que o poema acabou, que a partitura findou...
é quando nascem os poros arrepiantes donde faíscam luzes,
as irradiações e reflexos dos sentidos,
a memória tenra do amor em toda sua completude e dor...
E o poema sangra...
E os dedos choram
E o coração se revolve em procuras
em cachoeiras que explodem dos olhos
É o poema em seu gran finale,
o amor em sua partitura suprema,
na sublimação do sentir,
no adagio lamentoso e lúgubre do amor vivido,
do amor suado, do amor sentido às profundezas de um coração
que se descobre amar e amar
e amar - ardente e apaixonadamente -,
do amor que se curva a todos os sentidos da alma,
aos conflitos subjacentes
de um sentir sem fronteiras,
de um sentir sem limites de universos ou de mundos,
pois que transcende ao tempo e ao espaço.
O amor profundo, verdadeiro,
que ultrapassa o tempo, que rasga o verbo
e atravessa constelações e distâncias inexoráveis
para só sentir o cheiro, para estar junto, perto, dentro, para entregar...
no olhar, no tremor dos lábios,
nos olhos que tímidos espiam e se desviam
com medo de a alma, para sempre, eternamente,
a si mesma e a sua outra metade,
seus segredos e mistérios entregar...
É o choro da vitória do tenebroso destino
quando ainda se pesava a vitória,
quando a partitura era escrita e não vinha à luz,
mas voava, amassada pelas mãos do poeta,
de sua escrivaninha, de suas mãos de luz para latão de antão...
E a ternura enternecida da aprendiz a recolhia,
alma embevecida, pela letra inacabada...
E nascia a poesia compartilhada,
o sentimento exaurido de um poema em crise,
de um poema em lágrimas,
de um poema extraordinário e original para a orquestra da vida,
da sinfonia dos sonhos, da partitura inusitada,
da surpresa causada, nos silêncios profundos
que ecoam na Mélodie L'éternité de nosso eterno amor...