Muitas vezes, eu sei, com nosso jeito de ser, com nossas conjecturas loucas, forçamos lembranças em outras pessoas, invadindo à fórceps sua vida particular, sua intimidade, seu coração, sentimentos e emoções...
Fingimos não ver, mas percebemos. Principalmente quando falamos coisas que rebusquem tão, tão intimamente o outro ou o fundo, do fundo, do fundo de nós mesmos. Então o outro foge, fica quieto. Espera o momento passar e o assunto mudar, tirando o foco de sua/minha vida tão, tão particular.
Cresce o medo em compartilhar vida, sonhos... ... ...
Penso que houve um tempo em que isso era diferente. Falávamos nosso nome por completo, contávamos nossa descendência, falávamos de nossas famílias, derramávamos em longas conversas tantos sentimentos e emoções.
Os tempos passaram rápido como as nuvens das tempestades. E tudo mudou. Eu não sei como, nem por que, mas de supetão o mundo mudou, me deixando até sem chão. Parece que, ao redor de todos, as pessoas se calaram. Assim, do dia para a noite.
Quando o assunto se aproxima demais de intimidades pessoais e interiores humanos, as pessoas se calam. Eu, que me derramo em palavras, fico até sem saber o que fazer. Se fico quieta esperando os tempos mudarem outra vez, ou se assino o decreto de adesão à modernidade.
Hoje, me parece, quando o assunto resvala para intimidades interiores, as pessoas se assustam com o caminho, o rumo da conversa. Mas, não dizem nada à você. Só fogem pelas laterais da conversa. Talvez tenham medo de magoar. Sei lá.
Eu compreendo. Alguns, tem mania de falar do profundo da alma, das coisas do espírito e isso assusta porque a maioria tem medo que a pergunta: não quer contar de você venha à tona. Não saberiam o que fazer, mas sabem que não querem parar no tempo, nem mesmo para refletir sobre sua história, sua caminhada sobre a terra das gente.
E o que falar do passado? Muitos querem ir para frente até sem olhar para trás. Assim, como se fosse possível dirigir um carro sem olhar, de vez em quando, o espelho retrovisor. É melhor deixar tudo para lá, no passado. Deixar quieto, não revolver. Como ouvi: “não gosto de me ver em lugares onde não posso nunca mais voltar”.
Talvez, no cerne do silêncio do mundo, é isso que encontramos. Medo e angústia por mergulhar em temas e lembranças que a gente não pode mais mudar, reviver pessoas e lugares onde não se é mais possível voltar.
Penso que esse silêncio do mundo em relação à nós mesmos, é nossa forma de dizer que estamos feridos por saudades e dores tão profundas de tempos e pessoas que não voltam mais.
De dizer, calados, que temos saudades dos queridos ausentes à mesa da ceia do amor. De não saber o que fazer com a dor das perdas, de não saber lidar com o sofrimento que fincou adagas em nosso peito, quando nos feriu com a morte, sempre, sempre cedo demais...
Então decidimos viver só no presente. Presente de festas, com ausências que fingimos não existir. Presente de coisas que não demandam sentimentos, dores e saudades sofridas...
O mundo mudou. As amizades se transformaram em curtidas, compartilhamentos e cutucadas que não aprofundam relações...
Uma lágrima desce quente e silenciosa pela face...
Não quero a superficialidade das relações. Não quero mais só a folha de rosto do cotidiano das relações. Quero mais do que um "livro de rosto" pode me dar...
Queria que o mundo voltasse no tempo... Queria tanto que pudéssemos nos abraçar como amigos, rir de nossas coisas, chorar no ombro, contar nossas dores e as bênçãos que fazem de nossa vida um milagre de amor e nos fazem ser assim, eu, você, nós, como a gente é, com quem é... de coração aberto...