Enquanto bebo o silêncio da melodia,
tua palavra antiga vem
e adentra meu espírito sempre em busca,
sempre em tua procura
nos mesaninos de um mensageiro do tempo.
Faço de tuas palavras, minhas,
pois é você quem traz luz
para dentro do meu tempo.
E houve um tempo de esmerilhar
o que nem se sabia que tinha.
Hoje, os dedos de violino
tocam partituras que não mais te alcançam
pelo mesmo caminho andado.
Não há mais o que engradecer
no que se esconde
sob esta pele magoada pelo tempo
- só diminuir ou somar às saudades
de um tempo que perdido foi...
O mundo das estrelas
pertence ao Sol - que é você!
É você este espólio
de confraria e densidade
que habita os meus pra dentro
e o universo de estrelas
que vive ao teu/meu redor.
Eu vivo na mesa dos solitários,
desses, tristes, confusos e apáticos...
dos que não sabem para onde ir...
que se perdem entre os umbrais
da noite e do dia que,
para eles, nunca mais é ou será...
Mas sou eu, Maria,
a iluminada pela luz que emitem,
pela dor que exalam
e exige a transformação,
a compaixão e o amor em mim.
A dor da saudade lacera
no batente da porta do tempo
que mais uma vez,
sem pensar no silêncio profundo
que encontraria, abri...
A tela de ouro e cristal
não é suficiente para aplacar
a ânsia eterna de luz, luz, luz,
amor, amor, amor e canduras
que a alma ardentemente deseja,
mas se cala em suas buscas.
É que a maré que sou
sempre bate no paredão dos canyons
que encastelam a luz amada
e, empurrada de volta,
ribomba em alto mar,
sempre, desesperada,
em voltas de um dia...
um que seja... um dia,
novamente o cais, encontrar...
ou... por ele encontrada ser...
És tu o barro, amor da minha vida!
És tu meu anjo lindo e querido,
o iluminado pelas estrelas.
Eu sou um pequeno ramo torto de flor,
a areia da ampulheta
que desce lépida e frágil
pela bocarra do imenso gargalo do tempo
que, agora, me devora o corpo -
esse, que dança antes como uma folha seca -
envelhecida e amarelecida pelo tempo...
antes de, pra sempre, tombar ao chão...