Sempre haverão sombras a nos esmerar
de angústias ou de auroras a brilhar.
Também sou fraca e sucumbo diante
do que me parecem obstáculos intransponiveis aos sonhos.
Almejo o voo. Abro asas e me jogo no abismo...
não sei planar horizontes sem teu amor,
não sei me perder de ti e tua voz que me alcança
para me entregar um canto que arde partes de tua agonia,
partes de mim, areia perdida num universo de intensas saudades.
Não caibo nesta caixa de brinquedo
que te prende à terra os pés do senso e razão...
Deixa falar o coração...
Dance nessa caixa mágica, dance com a vida
no fim ou no início do mundo, que importa?
Não sei onde é, não sei onde o sol não nasce,
onde flores nele dançam...
em seu corpo de esperas ou de dádivas e entregas...
Vivo na argamassa do tempo,
trombo com as paredes tecidas por mãos
que deveriam derrubar muralhas, dirimir espaços,
bato de frente com o cimento do coração...
quando me diz: não!
É um sol sem conversa, um sol
que precisa de um tempo pra mim, pra si...
pro outro, não!
Mas, não tenho medo, não!
Pedras brutas também choram
e guardam preciosidades, flores, no coração...
Não estou nessa mesa de bar, não me encontro nesta festa
em que olhos procuram os meus.
Não vão me achar!
Há partidas ali, há horas e horas perdidas
entre um tempo em que o sol quer partir sem dizer adeus...
Adeus! Que seja breve,
como uma eternidade que nasce hoje
e ontem já se refez de suas fugas...
Se todos se foram, não fui...
Se vou, não fico...
Se fico, não vou...
Se desço não subo...
Se sou luz interior, dentro estou...
é preciso expandir...
reluzir como cesta de flores...
mesmo sendo pétula seca caída ao chão...
É dessa queda que o som se faz
e a roda e o bastão se tocam no tempo de antão...
Se me perguntas pra onde eu vou, não sei...
Se sei, não digo posto que vivo escondido...
Vou pro canto do mundo? É tão fundo!
É fresta do tempo...
E o sol... só sabe ir, partir, quebrar...
Desfila no corredor
entre suas três portas e duas salas!
Caminha assim, sem passo...
Só senta e olha! Ama?
Não sabe... duvida...
Mas... se ama...
Ah! Para a minha felicidade, ama...
Por, não tenho medo, não!
Lá nas alturas, diz o Poeta,
flores nascem em pedras...
E pedras brutas também choram...
e guardam preciosidades no coração...