Caminho os mesmos passos,
trilho as mesmas auroras,
mesmo a hora tardia,
o crepúsculo das palavras.
São milhares de rastros
que se perderam no tempo,
correndo atrás do sol
- seus raios amados,
buscando a lua,
tremulando saudades
no vago das ondas
que ziguezagueiam
pelos corredores da vida.
O soar medido e puro
recorda nossos risos
e nossas festas de chá e amendoim,
pastilhas de menta picante
nas bocas que sentiam o mesmo sabor.
Há tantos sozinhos
nessas esquinas que se cruzam
no vazio que o silêncio crava fundo
mais uma vez na curva de nossa vida.
Não sei do dia-a-dia, não sei.
Nada sei dessas esquinas pardas
que merecem seu olhar demorado e cotidiano.
Hoje pisei degraus
que subi e desci tantas vezes,
abri uma porta e entrei
para ver o brilho de vida
que paira em teus olhos.
Toquei o corpo do sol que,
ligeiro e meio perdido do que fazer,
se afastou e com outra luz, sozinha, me deixou...
Sussurrei baixinho:
como você está?
E outra voz ouviu
e respondeu no seu lugar...
Coisas de um coração
que quer estar junto,
perto, saber... ver... amar...
Mas, eis que o sol não escondeu
o sorriso de luz em seus olhos.
Estendeu seus raios e meu coração tocou...
Estou viva!
E sempre esperei por ti...
vivo a te esperar!
Não foi o mundo que me escondeu
entre a agulha e palha,
foi você que partiu de meu lagar
de candura e doces provas de amor...
Mas sei, de mim não há saídas,
nem rezas que me levem de mim sua luz...
Mesmo depois da morte,
há o nosso amor, há a nossa eternidade...
há alegria da presença...
há riso, amor, há vida!!