Cartas de Saint Michel - de dentro do silêncio
Querido Joseph
De dentro de meu silêncio sopro um beijo em tua face de luz. Me toma em tuas mãos e me leve com você para onde for teu coração. Se descansares entre as nuvens ou dormires entre as estrelas, estarei lá, a zelar teu sono.
Quando estiveres cansado e as pernas doerem ao caminhar, que meu amor seja o bálsamo que te dê forças para levantar e dizer: eu consigo, eu posso, hoje, sempre, eternamente, levantar, para em direção aos braços de Marie - em nossa casa em frente à abadia de luz - caminhar.
E se tuas mãos estiverem doloridas de tanto amar as estrelas, me esparrame qual bálsamo em tuas juntas, me deixa ficar em teus ossos, que já estão junto aos meus há tantas e tantas horas, desde que te descobri em mim, quando minha alma te visitou ao espiar por tua janela pela primeira vez.
Amor meu, vai lá em meu retrato e olha agora. Olha bem em meus olhos. Você ouviu certo. Sabe? Não sei como dizer mais uma e outra vez, mas eu te amo. Sempre, sempre te amei. Essa é a minha verdade. A minha oração, a minha dor, o meu encanto e meu todo coração sempre aconchegado em teu colo, em teu corpo, em tuas mãos.
E hoje era em teu colo que eu queria deitar e sussurrar estrelas, a alma entrelaçada em teus dedos, em teus carinhos em meu rosto, em tua respiração em meu peito, em teu abraço, intenso, sem fim, em meu corpo. E queria, olhos grudados nos teus, lábios tocando a tua pele pedir: perdão, meu anjo, por não te amar como queres ou necessitas, por não saber o que fazer com tanto sentimento contido em meus versos de dentro, sempre suspirando, sempre respirando o amor puro, sem mácula, amor perene.
E quando o vento soprar a dor da saudade em meu corpo porque chegou a hora de meu fim, erga a face para a montanha que te abraça, e que sou eu a te cuidar, e debruce sua vida na essência do que és. Fale ao mundo o que hoje não falas, conte a história de dois corações que se amam intensa e profundamente e nunca, nem pela morte separados irão, um em outro deixar de ser, estar.
E quando, em luto, precisares falar, quando a voz embargar, secar, na garganta, as mãos tremerem sobre o papel e as lágrimas molharem até as bordas do mundo, saiba que tua alma me alcançou na eternidade. E eu serei teu anjo de luz, teu pequeno milagre, a iluminar teus caminhos até que vieres me encontrar.
Talvez eu nunca tenha dito com as palavras certas que te amo. Talvez, por timidez, vergonha, medo de minha alma cheia de nódoas e nós, minhas imperfeições, fragilidades e meus erros revelar, eu sempre me escondi atrás de metáforas que não alcançavam o que sentia ou partituras de uma nota só, vozes que nunca chegaram ao teu coração como eu sempre busquei, incansável e persistentemente chegar.
Toquei tua face em meus silêncios, com palavras não ditas, beijos não dados, com abraços disfarçados porque tinha medo de te assustar com a força e a coragem de meu amor.
Eu não sei contar quantas vezes voei até você nas madrugadas e sussurrei melodias no teu adormecer, cantei as mais lindas liras querendo invadir, fazer corar o teu rosto, que venero todos os dias na fotografia que guardo nos rascunhos de nossa história . E quando lá em nosso templo, te vejo, olhos fechados, adormecido na poltrona, meu girassol querido, amado, me achego em acarícios em teu corpo, caminho minhas mãos em teus cabelos, plumo carinho por teus olhos e deslizo meu beijo em teus lábios com toda força, suavidade, ternura e meiguice de meu amor.
Eu não sei explicar como o universo nos colocou juntos, num mesmo arrebol, onde tantas estrelas já morreram ou partiram, mas eu e você, conseguimos encontrar a perenidade da paixão e do amor num velho caderno do tempo e por isso não quero perder você porque eu, em ti, não sei mais me achar.
Você é a minha resposta, você é o meu jardim de saudades, você é minha luz entre as estrelas, você meu todo e completo sentimento, meu amor, meu poeta, a razão da minha existência, o sentido da minha vida, da minha poesia, da minha alma que sempre foi você, de meu tempo que sempre foi teu e você nunca soube.
A lembrança mais querida que carregarei pra sempre em minha vida, é quando você chegou pela primeira vez em minha casa e eu pude te tocar todas noites, falar no teu ouvido, dormir com você, acordar, sonhar com você dentro de mim...
As lembranças despertam a ternura e o carinho que senti, a emoção que quase me fez parar de respirar, quando juntos percorremos os álbuns de fotos de quando eras ainda um menino sonhando o futuro, quando vi tua roupa de casamento e perambulei contigo em teu carro pelas ruas da cidade, para conhecer por onde andavas quando ainda te encontravas perdido de mim, triste, cabisbaixo e sem rumo em teus dias de perdas, sofrimento e dor.
Como sonho caminhar contigo, mãos dadas, esbanjando o feliz e o riso pelas estradas de princesas e rainhas.
Não tenho mais palavras para expressar o meu amor. Não sei mais o que dizer para que recebas este amor todos os dias. Quero amar você com toda minha coragem, quero amar as estrelas que te veneram, os deuses que entregam preciosidades todos os dias, todas as manhãs. Porque eu nasci para amar, amar a ti, ao sol e as outras estrelas.
Jamais irei embora de tua vida, nunca deixarei de olhar nos olhos de teu coração, porque sei, que é lá que eu sobrevivo, é lá que serei tua sempre Marie, tua mulher, a mulher que hoje, nesta carta de dengos, revelações, paixões desenfreadas e amor, se entrega, livre, sem amarras, sem máscaras, à você para dizer que para sempre amará teu coração de amor e luz.
Quando seu coração voltar de sua viagem pelas constelações que te rodeiam, se ainda sobrou um resquício de Marie em tua memória e alma, me escreva. Eu estou sempre aqui. Conectada em ti, em teu milagre de luz.
Recebe meu beijo em tuas mãos e cole-o em tua boca, como uma promessa, de amor eterno, que te peço, guarde-o perene, no relicário sagrado de nosso templo de amor.
Talvez esta seja a carta mais sincera que já escrevi. Ouça-a sem dor, sem rancor, com a alma embevecida, em homenagem à vida, nossa vida e depois guarde-a para ouvir voz sussurrando eu te amo, quando minha alma partir e eu não estiver mais aqui neste tempo de agora.
Da Marie.
Em um setembro de nossas vidas - 1889.
Maria
Enviado por Maria em 09/05/2023
Alterado em 09/09/2023