Maria
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Cartas de Saint Michel - de como alimentar um passarinho
Eu nunca deixei de alimentá-lo com palavras. Ao longo do tempo todas minhas letras foram falando com você.

Eu dizia tanta coisa. Me perdia porque tinha tanto a falar e, no final, sempre faltavam palavras.

Não creio que foram desavenças que nos aconteceram. Foi só o tempo que não soube me jogar, me fazer nascer no tempo certo. Eu cheguei atrasada para a festa de tua vida. Quando iniciei a gaguejar tu já desenhavas tuas cantatas como um rouxinol do amor.

E foi então que você se calou... Parou de cantar, de falar... Ficou mudo. E eu não sei porque, mas eu aceitei seu silêncio porque me sentia tão pequena e impotente. Eu simplesmente descobri que não podia obrigar você a nada. E silenciei só ousando adentrar seu mundo nos julho da vida, quando o inverno era mais rigoroso. Era como fazia para você saber que eu sempre estava aqui.

Em cada volta da terra ao redor do sol eu sabia: ele recebeu minhas palavras, ouviu minhas canções.

Quero que saiba que sempre estarei em suas mãos. Te guardo no coração com chaves de ouro e nunca, nunca vou deixar de te alimentar com palavras e com o todo do meu amor.

Me escreva.

Marie.

Outubro de 1989.
Maria
Enviado por Maria em 09/05/2023
Alterado em 09/09/2023
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