Maria
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Cartas de Saint Michel - de um tempo que não sei mais
Querido Joseph

Escrevo, depois de longos anos de silêncio, para dizer que estou bem.

O tempo está nebulado, mas os passarinhos estão cantando e isso muda o dia. Traz mais luz para minha vida.

De vez, em quando, releio nossas cartas guardadas no relicário do coração. E eu vejo, percebo, ao longo das cartas como fomos mudando. Consigo perceber e entender todas as fases e cada tempo que passou.

Não quero falar do passado. É uma história linda, sem fim. Que continua e nunca vai findar. Irá até a eternidade de luzes e depois voltará viva para aquecer e mostrar para outros corações que sonhos são possíveis de realizar, que sempre há um caminho para trilhar e que todos os dias a vida se renova num natal esplendoroso e iluminado.

Eu ouço com atenção cada nota da música de tua vida derramada em cada linha. Eu navego pelas suas palavras e me sinto nelas. Eu não entendo tudo ainda, mas não importa mais. Recebo cada dádiva que chega como um manjar dos deuses entregues pelas tuas mãos de mago das palavras. De rei das estrelas, de majestade de meu amor que vive e se ilumina com o alimento que encontra em tuas cartas.

Eu nem sempre falo tudo que penso e sinto. E também nem sempre respondo tudo que você pergunta. Mas acho que isso você já sabe e me entende. Até sem palavras.

Continuo a fugir do que me toca profundamente e não sei como expressar.

Continuo querendo falar e há tanto a ser dito e não encontro palavras. Por isso, me calo, pensativa a olhar pela janela a abadia ao longe, as ondas do mar quebrando em suas pedras e o sol perpassando suas torres e deixando um friso de luz voar em minha direção...

Obrigada por caminhar comigo essa jornada longa e esplêndida que é a vida. Obrigada por sempre estar perto, me ouvir, me acompanhar, seguir.

O céu nos colocou num mesmo espaço do tempo. Sua brevidade é sua eternidade e nela você vive e eu também.

Eu espero que você esteja bem. E que os ventos da montanha amainem suas dores e sua vida com brisas de luz e pérolas de amor. E amor não vai faltar neste tempo. Mesmo que não consiga expressar, ele está lá e, só você, só você mesmo, sabe.

Eu sei que uma flor lhe fala por mim, com sua cor, com seu cheiro, com sua beleza. Por isso nem sempre são necessárias palavras. Dói em mim, mas faço delas as minhas palavras porque não me é possível plantar sementes em teu jardim. As portas estão cerradas para esta plantadora de sonhos.

Mas quero que estas, e todas as outras palavras que são semeadas em meus jardins e garlam o ar, cheguem até você e te encontrem feliz.

A felicidade, Amor, é saber-se amado e poder amar. E você tem as duas coisas. És muito amado e nunca vi um homem que ama tanto uma mulher e dela faz Poema de luzes.

Meu beijo Josepf querido.
Se cuida.
De tua Marie.  

Saint Michel, outubro de 1889

Maria
Enviado por Maria em 09/05/2023
Alterado em 09/09/2023
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