Cartas de Saint Michel - das cartas que nunca foram lidas
Esta é a última carta que escrevo, daqui, do Sul para o Norte de minha vida.
Escrevo do silêncio da abadia, do sepulcro deste monastério de reflexão.
Não sei como esteja. Não sei por onde passam teus olhos, mas sei que nestas paragens longínguas não passaram para receber e ler as últimas cartas que lhe escrevi. Vejo que a última carta que leste de mim data de final de 1889.
Não entendo até hoje o que houve, porque te distanciastes de mim. E, triste, vejo que cometi os mesmos erros do passado insistindo em me fazer presente em tua caixa de correspondência.
Só hoje descobri que cada telegrama que eu recebia dizendo avisando que o carteiro não havia entregue minhas cartas à você eram diferentes e escritos por tuas próprias mãos. Até porque demoravam à chegar. Isso é mais triste ainda, pois só demonstravam que recebias minhas cartas, mas que não queria mais receber. Deveria ter tido seus motivos e não os questiono mais.
Mas preciso fazer um encerramento de um tempo que de novo me feriu demais. Nunca vais receber esta carta porque não a enviarei à você. Será guardada num relicário do tempo. Mas, tenho pleno consciência que tua alma à lê enquanto a escrevo.
E se não a lê... então, um dia o tempo a entregará quando eu não estiver mais aqui. Tudo que para nós é, para nós será entregue.
E esta carta é para ti. Para dizer que meu amor sempre foi teu e que mesmo tudo que aconteceu nestes anos todos não foi capaz de diminuir ou mudar isso porque não está em mim decidir sobre esse amor.
Ele está escrito nas estrelas...
Com amor,
Tua Marie.
Maria
Enviado por Maria em 09/05/2023
Alterado em 09/09/2023