Também me pergunto sobre os rumos do tempo,
os campos de sementes que ainda aguardam nascer.
Não sei das dores do sol
que ainda não se calaram em seus raios amados.
Uma certa tristeza de perguntas infindas
invade e conturba o espírito
por não se saber mais com o dom e a dádiva
de acariciar o vento e pétular o âmago do Sol
com o amor de eternidades.
Saber da dor que agrura de todos os lados
e não cessa seus açoites,
ergue sentimentos de pequenez e fragilidade da flor
que nasceu para o sol, o mar... amar...
mas, com este amor não os alcança mais...
As meias-paredes com cortinas sanzanadas
só podem ser entendidas como aparentes
se houver dois lados conectados,
mas se um está vazio
de nada adianta derrubar muros...
E, talvez ainda não saibas,
mas eles já nem existem mais...
não separam mais ninguém...
E o que conecta não depende mais de um tijolo ou uma parede,
nem de uma porta de cedro a ser batida
por um sol em fuga no espaço do céu.
O que conecta é de longa data,
é a ancestralidade do ser e do amar
como amou Singra em sua jornada pela vida.
Um amor descomunal,
um amor incondicional...
que se entrega, que se doa inteiro
sem medo, sem aportes de deixar o tempo passar...
Mas, no incriado do dia...
A dança colorida do vento
"zera o tempo e faz costume
de areias perdidas..." (J.K.)
E balbucia-se ao vento no céu...
e chora-se no subsolo da vida,
e lamenta-se na madrugada infinda.
E debrua-se a vida nas oito canetas do tempo...
memórias de uma história que nunca terá fim.
Não culpe a flor pelos açoites dos espinhos
que você próprio construiu.
Milagres não estão em descrédito,
e nem podem ser descréticos...
Milagre é a flor continuar e continuar
a abrir suas pétulas e amor entregar,
mesmo sua haste pisoteada pelo tempo.
Não, os homens não são iguais.
Sim, os homens são diferentes.
E se encontram nas suas semelhanças,
mas também são elas que, às vezes,
os separam um do outro.
E o, às vezes, está nos indecisos,
mas não há indecisão numa flor
que teima em nascer, crescer (enraizada e forte),
e florescer suas pétulas de amor e luz no diário do tempo.
Um sol que não compreende isso e que não sabe que é rei,
um astro que não se sabe amado e adorado,
um raio de luz que tem medo de espargir sua luminosidade...
... não há palavras que expressem as mil léguas de dor...
Entende-se o medo, não a traição do tempo,
porque areias perdidas são areias perdidas
e sabemos que agora mesmo há um grão
da ampulheta do tempo à cair...
O tempo não trai.
Ele segue seu rumo.
Nós é que traímos nossos próprios corações,
quando não entendemos que dentro dele
não mora mais o vazio, mas o amor,
e, por isso, não há honra
em perder o tempo para o medo de não o ter
ou medo de o perder...
ou perder o amor por medo de o perder...
Não somos mais vizinhos de duas portas,
somos nosso próprio espaço,
somos um na imensidão de um universo
que caminha sem saber que não há como zerar ou parar o tempo,
nem fazer costume de areias de perdidas.
Um dia um sol de amor me disse:
sempre em frente!
Sigamos... o caminho se estende tapete
diante de nossos pés.
Faço de ti meu próximo passo,
faço vida de teu corpo -
minha bandeira de esperança, meu carinho -
e filio ele, para sempre, ao meu amor.
És o carinho que me veste a alma...
o amor que fez morada em meu coração.