Toque de Pluma
Sonhos insones me acordaram na madrugada. Vim caminhar em tuas últimas palavras para mim . O coração aos pulos. Um nó na garganta. Lágrimas ferindo a face.
Penso em você como nunca antes. Estás dormindo. Fecho os olhos. A alma povoada de saudades acolhe a si mesma... O silêncio e a solidão transmutam meu pensar...
Como um anjo vou até você. Sobrevoo sua face. Velo seu sono. As lágrimas falam meus sentires. Milênios de sentimentos se derramam nesta visita. Mas, você não me ouve mais. Adormecido não sente minha presença.
Quero gritar. No entanto sei que não adianta. Já gritei tantas vezes e o eco dos meus gritos retornaram silenciosos, vazios. Me sinto fraca, perdida... cansada... muito cansada... entreguei tudo que sou... dei tudo de mim, falei tanto de meus sentimentos, de tudo que sou e o que sinto... esvaziei-me de mim... exauri-me de mim mesma... agora sou um saco vazio, perdido, sozinho e largado pra afundar nas águas da saudade.
Estou perdida. Não sei o que fazer... O que faço? Me diz? O que faço? Arranco de dentro do peito as raízes que me machucam? Arranco de dentro de mim eu mesma? Não posso fazer isso. Sabe porque? Porque preciso de você. E você precisa de mim. Nós somos duas metades de um mesmo universo. Não podemos viver desenlaçados. Eu já descobri isso...
Observo sua face adormecida. Não sei mais o que fazer para despertar você. É tanto tempo que partiste... Para onde foi você que não me busca mais? Em que mãos paira seu espírito? Tantas perguntas, angústias, ausências...longas e doloridas...
O dia começa a amanhecer. Abro minhas asas. É meu último voo. Vou em direção aos penhascos do céu, à montanha de abismos. Levo nas asas salpicadas de sangue um coração moribundo de saudades. um coração envolto em amor... um coração que se debruça sobre sua face e como uma pluma beija seus olhos, seus lábios... podes sentir? É o toque do amor invadindo de luz o seu sono...
Levanto as asas... a brisa do voo irá te despertar.. Quando acordares, abre a janela e espia o céu ainda escuro. Consegues ver a lua na borda da montanha? Percebes dentro dela minhas asas? São o sinal. Cada vez que a olhares lembra que, mesmo escondida atrás das nuvens escuras ou da luz resplandecente do sol, estou aqui... sempre... aqui... perto, bem pertinho de você... sempre...
Tempo de escrita: 2014
Maria
Enviado por Maria em 19/05/2023
Alterado em 02/09/2023