Sei dessas saudades imortais,
dessa noite varrida de ventos
e do sibilar ermo e uivante das Areias do tempo.
Não é a calmaria o que se agita nas quebradas das esquinas
e nas mãos que baguçam o lixo das emoções.
Também não é tempo de erguer muralhas
ou fortalecer as que já existem.
Não há que ocultar o que se é
quando faltam palavras
para na rua ou em praça pública
desenhar sentimentos.
Escrever rascunhos
e da lixeira da vida os apagar
já não leva a nada.
Ninguém mesmo vai ler
e o saber se mimetiza
entre a rosa e o jardim,
a flor e a montanha.
Até a lua vira sol num disfarce de época.
Como num espelho, igualmente,
traço esboços dos meus medos
que já descobri ao longo do tempo.
Ah! Também sou paisagem e me transformo
se o sol nasce fulguroso de luz e cor
por entre a névoa que abraça a montanha
ou nuvens de kryptonita para não pensar - só amar.
É quando as lágrimas que tingem a face
desenham um poema no toque de pele.
É assim que, algures do tempo,
toco o céu com a mão
enquanto meus pés de barro
continuam na terra.
Se um dia virar estrela,
olhos de anjo estarão atentos
ao caminhar do poeta
que se diz ir quieto
para a casa do sol de ontem.