Talvez eu continue mendigando palavras
nas sinaleiras da vida,
trêmulos pés, em casca e feridas...
Andarilha, lanço a nau num mar
que se alterna entre a mansidão
dos ventos acariciantes de ternuras
e a tempestade que navalha a alma
tecendo nódoas e nós de solidão.
É essa inconstância, esse mar violento
que me tira o leme, os remos da mão
e me leva à busca de ser estrela
da meia-noite num céu de escuridão,
enquanto você me olha,
do bombordo da vida,
brilhar de saudades,
meus olhos tristes,
cascateando lágrimas aperoladas de dor...
Talvez, por isso, eu busque a menina
que ainda mora em mim.
Mulher adormecida,
recolhida em sua concha de reflexão,
meditativa, calada, quieta em meus pra dentro -
para não transbordar sentimentos
sem um sol que os acolha
em seu coração de luz e deles faça
mesuras de cartas de amor e paixão.
Ando nas superfícies desse mar
que sei profundo e prenhe de beijos de luz...
É que é nas profundezas
que arquiteto o construto
de minhas reflexões e insanidades,
mas é, também lá que guardo
arranjos de partituras de amor
e memórias de mim, em ti... em nós, amor...
Talvez eu continue mendigando palavras
nas sinaleiras fechadas para o céu
de uma primeira página da vida,
pés trêmulos, alma sempre faminta de amor e luz...