A pressa de perder-se
Não quero a pressa no perder-se,
mas sim o vagar de encontrar-se
no tempo de perder-se
em íntimas e profundas digressões.
Mas também gostava da pressa de que o poeta fala...
da minha pressa em viver, em caminhar,
em participar do espírito do tempo,
das nuances das horas que - aos poucos -
foram se calando em mim.
Até viver a minha própria escuridão.
Caminhei por ela... em seu profundo e silente.
Nada via, apenas sentia.
E sabia possuir uma direção para os pés,
mesmo não vendo o caminho...
É indescritível esse andar pelo túnel do tempo,
sem ver, sem ouvir, só sentindo...
É imensurável o que se desprende de nosso ser
e se cola no passado quando se vive
a experiência de perder-se da vida, do tempo, do espaço...
e descobre-se que vida, tempo, espaço são uma coisa só...
e que o sentido disso tudo é o amor...
É quando a pressa em viver cai por terra
e passamos a ter pressa em perder-se de si
e encontrar-se... em si, no outro,
na vida, no tempo e no espaço que são um só...
É o momento gênese, o instante iluminante,
a hora em que descobrimos o "Moto Contínuo"
de que o poeta fala em meus pássaros em migração
quando se deixa por eles tocar e se abre ao falar da vida...
"Talvez seja preciso viver na pressa, para sair dela" (Edgar Morin).