Orvalhando sonhos...
E quem disse que quero me (des)inventar?
Deixar de orvalhar sonhos,
de aprender com a compassividade irosa
que me foi dada ou calar a minha voz
no silêncio da (in)reciprocidade,
no fim do nada que tenho,
do chegar do (a)colhimento...
Tenho em meus pra dentro um refúgio -
que, por algum tempo, estive a perseguir -,
que me guarda relicário enquanto vivo,
enquanto não poderia mais morrer,
enquanto durmo na (in)certeza da lua,
no assovio do vento que, triste, balança a ramagem,
que movimenta sombras na terra
e, pálido de auroras, inaugura a lágrima em mim...
E quem disse que quero me (des)inventar?
Corro igual gazela para (re)criar em mim
um uníssono de sonho
que alcance uma janela azul de sentimento.
A pele expurga sonhos, enquanto a alma
se acolhe em si mesma em busca de se consolar.
Os dedos choram sobre as cordas esticadas de dor...
um silêncio, uma pausa, um toque só silencioso e puro...
a partitura da vida é para se viver com os olhos fechados,
sentindo apenas... que o viver real
é aquele que mora no coração - o Amor!...
Ecoa o som harmonioso que a alma fez
após se abrirem - no meu silêncio - os olhos do poeta...
um ecoar melodioso e hárpico
que exala o som do interior
dos abismos e montanhas que habitam em mim...
Amo-te assim: olhos de melodia
nas cordas de um vento
que me acaricia a face
com as pegadas de um destino
ao qual meu coração, há milênios, já disse Sim!...
Maria
Enviado por Maria em 19/06/2023