Sempre somos felizes em nosso mundo
até nos descobrirmos sós.
Até olharmos para dentro
e percebermos o oco do oco em profundidade.
É quando a dor tece limites de caos ao nosso redor.
Confrontar-se consigo mesmo, confrontar-se
com o espelho aberto à sua frente também dói.
Foi assim que eu o encontrei:
enevoado e perdido, embrulhado em seu próprio caos.
E foi assim que me vi e uma "verdade" plantei.
Minha alma num jardim deixei...
E um rastro familiar lá ficou...
Eu entendi a profundidade dos abismos,
percorri os vales profundos enrolados em dor,
vaguei por céus abraçados de névoa,
em meio as tuas tempestades e desastres interiores.
Conheci a dor profunda e pungente
de um coração magoado e ferido.
Senti a força do vento que o carregava para cá e para lá
e o medo que lhe tomava o peito
ao se deixar arrastar pelas enxurradas e enchentes da vida.
Eu vi o seu interior, conheci
e amei sua alma muito antes de sua face.
Não foi a flor que seguiu as pegadas deixadas em seu jardim,
foi ela que as deixou e o sol as percebeu
e a encontrou onde os seus olhos a viram -
folha seca, caída ao chão...
Foi quando o destino brincou conosco
e me disse na voz de um poeta,
calando fundo em meu peito:
"ama-se um coração,
mesmo sem conhecer um rosto".
Não fale que não houve reciprocidade.
Lágrimas aperoladas de dor,
caiam dos olhos da flor,
mas ela sabia entregar carinho,
entregou o coração
a quem há tempos vivia triste,
abraçado em seus sozinhos...
Sim, alguns portões
devem permanecer fechados
e algumas daquelas portas
que um dia foram abertas,
precisam ser outra vez fechadas, cadeadas...
O mundo interior é como uma redoma de vidro.
Para que se possa guardar
em seu cerne preciosidades,
raridades amadas
é preciso resinar frestas
que deixam escoar teouros
que no relicário do amor
devem permanecer, pra sempre, guardados.