Maria
Prosa e Poesia
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Textos

Quantas vezes as portas bateram em minha face,

tantas e tantas que só vi as costas viradas

sobre o tampo da mesa

ou se esvaindo pelo batente escorrido de lágrimas...

 

Tentaram me ensinar o jogo e suas regras,

mas me descobri sem mãos para brincar de viver.

Propus morrer e disso eu soube bem fazer. 

Também acho que se me esclarecessem

o que de imenso eu faço parte,

se me dissessem o por quê de cada coisa

eu, talvez, pudesse compreender - ou não!.

 

Quantas vezes me povoaram do amargo

e me revelaram meu não-ser

no mundo que ousei "invadir"

e, tal qual nau sem rumo, percorrer.

 

Sou simples assim.

Mal-querida e sem belezas

para sobre a mesa

de pesamentos colocar.

 

É injusta a guerra, é injusto o comparativo

entre uma ramagem de tortos ramos,

flores e folhas secas caídas ao chão

e a flor da neve que faz seu leque de amor.

 

É neste mistério de quem seja

que me beira a pergunta: e você?

Onde está que calou

a voz inusitada e extraordinária da vida?

Onde anda o semblante encarquilhado de sonhos

que desciam as corredeiras de um rio

pelos penhascos da montanha querida?

Era um deságue sincero e ardente de luz

que esbanjava nas linhas em branco

que se seguiam ao canto de amor.

 

E me falavas da dimensão transcendental

do sentimento cujas descobertas também doem.

E desenhavas diagramas da dimensão enigmática do ser

deitadas sobre a mesa em meio ao caos

e o gole de chá na xícara amada.

Tudo muito simbólico para nada significar.

Tudo muito estratégico para não confundir

e os olhos que tudo olham a percepção não errar.

 

Como não ligar o enigma à razão? Como ?

Nem é possível esquecer...

Só olhar e rezar para que o tempo nos poupe

de não viver, de não ser...

e nos permita um minuto que seja da eternidade de vida

que beira o pulsar no peito...

o arder a vida nas iniciais escritas,

num pacto sagrado,

pacto do sangue das lágrimas, na palma da mão... 

 

 

"Essa dimensão enigmática não devemos jamais esquecer (alguns a esquecem rapidamente);

não devemos jamais nos fascinar com ela (outros ficam aturdidos com ela);

devemos detectá-la e reconhecê-la em todas as coisas.

Sem esquecê-la para as coisas. Sem esquecer as coisas.

Ligar o enigma à razão, mas não conforme uma reciprocidade mecânica:

há um enigma da razão, mas não há razão no enigma"

(Edgar Morin). 

Maria
Enviado por Maria em 20/06/2023
Alterado em 20/06/2023
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