Quantas verdades isoladas
se guardaram em meio as trevas
que me ofuscaram o sol e me fizeram vagar,
alma incauta e desacreditada de si
em busca do que já vivia em mim.
De fato, o sol sempre esteve lá.
Na sala ao lado, do outro lado da mesa,
no corredor entre uma xícara de chá
e o meu pensar solitário e longínquo.
E me quedava, distante, em busca
da mesma luz que me cercava
e me olhava pensativa e amorosa pela vidraça.
E como fugi desse olhar, intrigante, latente, insistente,
que percebia, mas não compreendia...
e para dele fugir, mudava de lugar...
- o que era, o que dizia... ?
Curiosidade, refletia.
Interesse intelectual, concluía.
E, mergulhava em minhas trevas interiores
germinando um poema de minha retina ardente de luz,
sem saber que a retina do poeta
é qual estrela vista de um ermo e solitário campo,
quando o silêncio de dentro se nivela ao da escuridão...
e nela a alma poiesis vê... o Sol.
E o Sol sempre estava lá,
mas meus olhos que tudo viam,
não o viam, não o percebiam...
Talvez, talvez, entendia, ainda,
que a luz diminuía o sentimento, o sonho,
porque o conhecimento dela e sobre ela
nos abre para as verdades isoladas
e escondidas até de si – de mim, de ti...
De fato, havia sol,
enquanto eu mergulhava na escuridão.
É que, no escuro o olhar se amplia,
o sentimento ganha dimensões imensuráveis...
porque o poeta vê a luz,
mesmo em meio ao noturno dos sentimentos...
percebe as estrelas num céu escuro e distante,
muita vezes, apenas por as saber... existir...
E o sol sempre existiu.
Sempre esteve lá.
Olhando para meus olhos em amor.
Desejando aquecer meu corpo,
minha alma, meu espírito com seu calor.
De fato, hoje, há Sol.
E o poema nasce amoroso e livre
- asas abertas em direção ao seu céu -
em olhos ofuscados e ardentes de luz...