me faz de novo, me costura perfeita,
como costureiro que disse: - eu sonho!
me emenda ao espelho de eterno amor,
um belo, plácido e sereno lago
em sono manso, adormecido em calor.
pega o pano, junta os retalhos,
toma a linha, a agulha, e fere
o dedo à costurar, sem sangrar.
me faz gente, não boneca de pano,
como as que minha mãe fazia
pra eu, quando moleca brincar.
me faz mulher, cor de multidão,
- sem cansaço -, sua conquista de amor.
alinhave as bordas, junta a renda,
o fino tecido, faz o transparente.
uma luz que surge pra te iluminar,
cantar por sua vida, tecer a voz
e tornar em meiguice o seu olhar.
cerceia o corpo, faz nele ranhuras,
desfia o véu e cobre a pele alva,
com fiapos de fios de luz e calor.
alisa a fazenda, passa o ferro, firmeza.
acerta os detalhes e junta o molde.
confere a figura, tece e rasga fora
as cores envergonhadas e as sobras.
amarra as tiras e faz tua princesa.
risca mais uma, dúzias de mim, numa só.
costura e coze, com Dedo de Agulha,
faz plantão no monturo de tecido...
alinhava-me honesta e sobranceira,
costura cada ponto com teu coração.
faz vestido de amor, faz ser mulher.
forma de rainha, canto e voz de sol,
harmonia do céu, vivaz e suave menina,
a mais brilhante estrela da constelação !