Não consigo mais ouvir, mas sei que minha voz
é um som oco e perdido no mensageiro do tempo.
Sei que não arde mais seu coração
e não te espanta mais a alma a ponto de a retornar.
Deixe-a ir, surda e silenciosa como é, deixe-a ir...
qual maresia de um mar que sabe calar suas águas
e as joga, paulatinamente, contra os rochedos...
e elas batem na dureza da rocha
e voltam para seu colo de lágrimas a se despejar.
Não consigo mais ouvir,
porque não tenho mais falado
e se me calo é por desistências...
um cansaço que assoberbou a alma
e não permite mais devaneios
e sonhos inalcançáveis.
Mas as vozes estão lá,
todas sem respostas,
todas sem mais a espera
de um olhar de amor.
Deixe-as ir...
que se apaguem lentamente da tela do tempo,
que se dissolvam no pergaminho da vida
e se calem nesse eco de silêncio
e profunda indiferença.
Um coração em cada palavra,
uma alma em cada linha,
o espírito conturbado de emoções
e intensos sentimentos
em cada entrelinha escrita.
E nunca foram lidas,
e nunca foram respondidas...
Calaram-se no mensageiro
como um navio que anda à deriva
em águas profundas e tempestuosas.
E já não há mais esperanças.
Que se calem
como um dia
aprenderam a falar.
E há de chegar o dia
em que ouvido nenhum mais ouvirá
o som dessa lágrima
que desce calada e sozinha
em missiva de amor...
E é assim que sigo:
bebendo goles pontiagudos de silêncios
que se atravessam na garganta
e vão ferindo o caminho... e me calo.
Calo-me qual chuva franzina, calo-me.
Tristonha e surda de mim mesma, calo-me.
Por isso não consigo mais ouvir
o som oco e perdido de minha voz de amor
nas missivas, profunda, delicada e amorosamente,
depositadas - e por ti ignoradas - na tua janela do tempo.