Maria
Prosa e Poesia
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Esquecidas Missivas

 

Não consigo mais ouvir, mas sei que minha voz

é um som oco e perdido no mensageiro do tempo.

Sei que não arde mais seu coração

e não te espanta mais a alma a ponto de a retornar.

 

Deixe-a ir, surda e silenciosa como é, deixe-a ir...

qual maresia de um mar que sabe calar suas águas

e as joga, paulatinamente, contra os rochedos...

e elas batem na dureza da rocha

e voltam para seu colo de lágrimas a se despejar.

 

Não consigo mais ouvir,

porque não tenho mais falado

e se me calo é por desistências...

um cansaço que assoberbou a alma

e não permite mais devaneios

e sonhos inalcançáveis.

 

Mas as vozes estão lá,

todas sem respostas,

todas sem mais a espera

de um olhar de amor.

 

Deixe-as ir...

que se apaguem lentamente da tela do tempo,

que se dissolvam no pergaminho da vida

e se calem nesse eco de silêncio

e profunda indiferença.

 

Um coração em cada palavra,

uma alma em cada linha,

o espírito conturbado de emoções

e intensos sentimentos

em cada entrelinha escrita.

E nunca foram lidas,

e nunca foram respondidas...

Calaram-se no mensageiro

como um navio que anda à deriva

em águas profundas e tempestuosas.

 

E já não há mais esperanças.

Que se calem

como um dia

aprenderam a falar.

 

E há de chegar o dia

em que ouvido nenhum mais ouvirá

o som dessa lágrima

que desce calada e sozinha

em missiva de amor...

 

E é assim que sigo:

bebendo goles pontiagudos de silêncios

que se atravessam na garganta

e vão ferindo o caminho... e me calo.

 

Calo-me qual chuva franzina, calo-me.

Tristonha e surda de mim mesma, calo-me.

Por isso não consigo mais ouvir

o som oco e perdido de minha voz de amor

nas missivas, profunda, delicada e amorosamente,

depositadas - e por ti ignoradas - na tua janela do tempo.

 

 

 

Maria
Enviado por Maria em 10/07/2023
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