Meu início foi o mesmo teu.
Meu cavalgar pela vida nasceu
embrulhado em teu caos de arenito,
latas e ferros anilados de dor
e rodeado de gentes
e paredes de argamassa
que se erguiam imponentes
em busca de ir até o céu.
Deixei uma verdade plantada
em teus areais de terras férteis.
Passei, como passa a vida,
alheando sementes na terra
que em busca de boas colheitas se expande.
E a semente nasceu,
por isso estamos aqui.
Também sou povoada
de grânulos de pedras erosadas.
Sou meu próprio deserto
sem oásis pra plantar.
Por isso sempre cavalguei
em busca de teu sol.
Nunca cheguei no tempo certo,
mas quando surgi te vi
lutando com tuas tempestades
e clamei para que se desenrolasse da dor.
Vejo que ainda não cheguei no tempo certo,
mas de longe nunca estive.
Vivi sempre perto,
debaixo do mesmo céu, da mesma chuva,
da mesma nuvem esquecida
em algum horizonte de nós dois.
Mesmo perdida,
sem saber o território que pisava,
seu deserto eu habitei.
Caminhei em teus oásis
- quando nele também estivestes -
por milênios de hora do tempo.
Lado à lado estive,
- mesmo sem saber -
e não há como me isentares
dessa participação.
Comi em tua mesa,
toquei tua pele tantas vezes
e naveguei em teu cheiro
impregnado em cada grão de ar
que eu respirava...
Dois solitários então?
Dois pássaros feridos.
Um de cada lado da vida,
sempre em busca de morrer.
Mas não há mais que fenecer.
O morrer a mim me coube
e dele, todas as vezes, voltei...
Há um propósito para ainda estarmos aqui...
com teus olhos me fitando,
sentindo o meu falar desengonçado
e sem asas pra saber voar direções
neste novo tempo que se fez.
Hoje só quero ir, abrir asas e ir...
só quero guiar o meu corcel desvairado de amor
para dentro de algum deserto
que tenha portas abertas para Areias ao Vento.
E que sejam as portas secretas
do teu coração...