Também procurava
os avisos necrológicos nos antigos jornais
com o sentimento de estar exorcizando
o que temos de mais clichê em falar: a morte.
E existe mais realismo em se viver do que se pensar no morrer?
É tão tênue o fio de prata que nos liga ao ser, ao vivente...
rompe-se com tanta facilidade
que ainda me pergunto como se mantém ligado o meu.
Hoje - na minha visão deste túmulo,
desta lápide com que o encobrem -
também vejo o que antes me assustava, como retiro: o envelhecer.
O envelhecimento é o que há de mais belo hoje em mim,
posto que me vejo alma antiga e plena de mim mesma.
E jamais poderia ter o que tenho hoje sem viver o que vivi...
Não há mais jornais, já não posso mais procurar
pelos avisos necrológicos com o sentimento de exorcizar a morte,
mas vivo cada dia celebrando a vida -
enquanto respirar da máquina, enquanto pulsar do coração.