Vertiginosamente espio a beirada.
Sabes que minhas xícaras
são sempre canyons profundos.
Mas bebes o chá no raso
de uma porcelana azulada de juventude.
O essencial está bem disperso
neste cotidiano líquido
que sempre é usado em ausências
programadas ou justificadas.
O essencial para mim é viver
a completude de amar e ser amada
e não ser o resto procurado
em meio à solidão...
Eu sinto que fostes para longe de mim.
As cores na janela do tempo profundo estagnaram
e não se mexem para me dizer o que sentem -
não explodem mais em metagaláxias
de emoções e sentimentos.
Eu tento tecer os elos,
mas vejo que falo comigo mesma
enquanto a chuva chove dos olhos
sem o flamejar dos raios do sol.
É... também sou mais nada,
a não ser alguém mastigando palavras
em seu universo de solidão...
Me olho na vidraça embaçada e de uma cor só,
expectadora de mim mesma,
contemplando o outro eu... que sou eu...
um resto a ser procurado só em meio à solidão.
Sentimento de esquecimento absoluto,
enquanto o sol brinca na festa na noite
com sua jovem e ruiva lua...
e um universo de pássaros,
estrelas, cometas e planetas...
Sozinha, me acolho em meu próprio abraço,
enquanto laivos de chuva deslizam ao chão...
Vertiginosamente, espio a beirada...
minhas xícaras são sempre canyons profundos...