Ontem eu fui eu mesma. Eu sou assim.
Eu esperneei, esbravejei, xinguei, gritei...
disse que estava com raiva, fiquei com ódio...
e... descambei montanha abaixo
como uma pedra que rola infinitamente...
e nunca chega... ao fim...
Eu sou assim: intempestiva, impulsiva, reagente...
eu acho que o mundo errou quando... me pariu...
esqueceu que ainda me faltavam alguns fios,
algumas emendas, alguns laços,
algumas pontes sobre os rios...
caudalosos e tempestuosos da minha vida...
Ganhei cordilheiras ao invés de uma montanha
e a neve despenca amiúde lá de cima
arrastando tudo pela frente.
Eu vivo na paz do olho dos furacões
porque ao meu redor
tudo gira descontroladamente...
Sabe? Não, você não sabe.
Não tem ideia do que eu tenho de enfrentar.
Do que eu enfrentei.
A pior parte é enfrentar a si mesma.
Me olhar no espelho ... e me ver...
como de fato eu sou...
Ontem eu fui eu mesma,
como sempre sou todos os dias.
Cada dia guarda uma Maria. E, às vezes,
num estalar da pólvora despertam
aquelas que fazem vendavais,
constroem tempestades contra si mesma.
O vento sopra lá fora, sopra forte.
Mas, sopra aqui dentro, também, fazendo redemoinhos.
E aí vem o silêncio do olho do furacão.
Hoje eu não tenho mais medo...
porque eu descobri que eu sou o próprio vento....
Por isso, ontem... eu fui eu mesma...
como sempre tenho sido...