Se podes perguntar de onde venho? Por favor!!!...
Trago as asas rotas como tu e o sangue vivo dos tão longos voos
salpicando minhas brancas penas.
Também o limpo pacientemente de minhas asas fatigadas e fustigadas...
Se posso pousar ao seu lado ainda que escuro?
Sim, quem sabe, em meu cansaço e solidão,
seja o que eu preciso, o que me falta!...
Talvez, talvez consigas ouvir minha linguagem
(pode ser que seja uma daquelas que sabes),
escutar a minha voz que ninguém ouve,
decifrar minhas metáforas e compreender
meu triste e incompreensível cântico...
Venho de jornadas interiores, de mergulhos
no denso e profundo da alma em libação.
Trago as asas rotas como tu,
se deixo pingar do bico o sangue vivo salpicado nas penas das asas,
fruto dos longos voos em busca do que nem sei mais.
Se um pássaro trava guerras interiores
para se decidir entre uma flor que adorna
e outra que alça, melhor a esta ave do voo desistir.
Limpar, pacientemente, as asas fustigadas pelos silêncios,
fatigadas pelo esquecimento e exaustas de tanto tentar
calar um beijo de amor num ombro que foge.
E hoje me vens outra vez. E me pergunta:
Se posso pousar ao seu lado ainda que escuro?
Por que perguntas se sabes a resposta pássaro ferido como eu.
Pousas ao meu lado, inda que escuro.
Penso que não há quem possa compreender o canto deste pássaro.
Insólita ave, pia, chama, chama
e veste os versos de seu canto noturno e apaixonado...
E a noite passa incólume às palavras...
como um coração que não ouve, que cego não percebe
a melodia que aos poucos vai se transformando num lamento,
um ai, um pio de dor, solidão e silêncio...