Talvez eu esteja, nesse exato momento,
contemplando o ponto cego da minha retina.
Aquele espaço-lugar da vida
em que você não consegue visualizar mais nada.
Você olha e não vê o que a vida lhe mostra,
não ouve o que o vento lhe sussurra,
não percebe a luz do Sol ou o brilho da Lua
ou o caminho dos cometas e o brilho das estrelas.
Talvez de tanto buscar a zona que elucida,
que apresenta o que a vida tem pra mim
eu me perdi na floresta escura
e viva o instante da minha zona de cegueira.
Mesmo sabendo
que não há luz sem escuridão,
nem, como diz o filósofo
"não há elucidação sem sem sombra"*
me percebo mergulhada num areal
em que não consigo compreender
e minha mente só pergunta: por quê?
Não tenho resposta, nem um eco dela...
Ou, talvez tenha e eu esteja,
nesse exato momento, contemplando
o ponto cego da minha retina...
* Edgar Morin (2003, p. 52)