Desliza calada a gota de chuva.
Como a dor de um poema rasgado,
ou as horas num dia tristonho e vazio.
Desliza calada a gota...
Como o som
do campanário em dia fúnebre
ou a voz do vento
que passa na noite que se inicia...
Recostado na soleira da porta,
triste, pensativo, o olhar
se demora no telhado de barro...
Cada telha vazia...
a tábua da alma
ou a página
de um calendário do tempo...
que não diz mais os dias,
mas conta os milênios
que nunca teve...
Ouça a alma que chora...
como a dor de um poema rasgado
ou o som de um campanário
em dia fúnebre...
Pintura: Michael Malm