Talvez eu ainda não consiga dedilhar
todos os acordes de minhas metáforas.
Elas são imensamente frágeis...
diante da profundidade e intensidade
do que preciso, da alma, desvelar.
Minhas mãos são pequenas e tímidas
no sangrar das cordas de meu violino.
É que não sei mais escrever como o fazia
em minha ancestralidade de ser Poeta...
Tinha uma profundidade rara em meu ser.
Um desconhecido que me impulsionava...
Será que era eu? Ou outra dentro de mim?
Ainda sinto o cheiro do pó do ouro
que você dizia correr em minhas veias
e consigo vislumbrar
os desassossegos e inquietudes
que buliçam silêncios
e fazem surgir o poema
qual brotam harpas
das brumas silentes da alma.
Indescritíveis os caminhos do tempo.
Como luzeiros mergulhados
das fuligens da noite,
de ventos carregados
da dor e alegria de Llitch*
e de meus próprios
espantos e assombros...
Quão impalpável a nudez
que se desenha no sopro
dos acordes e metáforas
de um poema nascido
entre o som de meus pra dentro
envolto em brumas e silêncios...
* Piotr Llitch Tchaikovski (ouvindo)
Pintura: Andrei Markin (1976)