Aprendendo com os adultos
Era setembro, o primeiro dia do mês. Teu pai e eu havíamos ido para o velório de um grande amigo. Teu tio Milton morou na casa dele em Florianópolis. E agora estávamos no velório dele. Você ficou com a Maitê.
A tardinha Maitê precisava ir para casa e você ficou com o Cido que veio para reunião à noite.
Lá pelas 19 horas chegamos e você veio correndo do container (escritório trabalho do teu pai), louco de saudades.
Te abracei forte, afinal quando a vida e a morte se encontram a gente dá muito mais valor ainda aos que nos são amados, queridos. Após, fui para a cozinha preparar algo para comermos juntos antes da reunião.
Então você chegou perto e me pediu:
- Mamy, posso ir lá no escritório pegar uma bala?
- E de quem são as balas, tuas?, perguntei. Sabia que você não tinha balas, mas... vai que ganhou uma da Maitê ou do Cido. Mesmo sem saber, respondi:
- Não, são da Maitê. E você pediu para Maitê se podia pegar uma bala dela?
- Não, mas antes eu já peguei uma.
- Ah é? Mas tu ainda sabes que tua mãe e teu pai ensinaram que a gente não pega o que é dos outros?
- Eu sei, mas eu peguei mesmo assim, eu vi e fiquei com vontade de comer e peguei.
- Júnior, amanhã vais falar com a Maitê. Vais contar que pegou a bala sem pedir e pedir perdão a ela por isso...
Então... você, já meio chorando...
- Mamy, mas como é que o tio Cido pode?
Bom, aí eu fiquei pasma... Como é que eu ia saber de uma coisa dessas? Você havia seguido o exemplo de um adulto.
Enfim... conversamos longamente sobre o assunto. Contei pra você que os adultos também erram (acho que erram mais), assim como as crianças. Contei pra você que tua mamy também faz coisas erradas, que também já mexeu em coisas de outros, que também fala mentiras, que também erra. E acrescentei que tua mamy já se arrependeu de muita coisa errada que fez e já teve de pedir perdão muitas vezes, inclusive para você e você sabe disso.
Ao seu final, foi muito boa nossa conversa filho. Acho que você aprendeu para a vida. Tudo por causa de uma bala.
Foto: Maria