Maria
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Quando os sonhos se tornam realidade

Viajei na sexta-feira Santa para o Oeste do Paraná - pasme - à trabalho. A equipe descuidou-se e marcou uma aula no sábado de aleluia em Londrina. Quando deram conta do problema me avisaram e perguntei:

- Tem adesão?

- Tem, responderam.

- Então eu vou. Pronto. Se as pessoas estavam dispostas a me ouvir num sábado de aleluia eu iria lá, falar-lhes...

E fomos. Na última hora, o coordenador de área que iria comigo, precisou ficar por questões de saúde da esposa. Sua secretária aceitou me acompanhar. Levou a jovem filha porque era Páscoa. A convidei como voluntária para ajudar a mãe na organização e secretaria do curso.

A viagem foi maravilhosa, pois tenho o costume de parar para olhar e fotografar lugares bonitos e queria proporcionar isso à jovem que nos acompanhava tendo deixado o namorado em Blumenau para estar com a mãe no dia de Páscoa. Tivemos um dia de sol esplêndido sem ser quente. Significa que viajamos de janelas abertas - ah, eu adoro o vento no cabelo... Amo!

Sexta à noite, já na chegada, jantar e turismo com meu sobrinho que é tenente no Tiro de Guerra da cidade. Dar aula em cidades onde tenho parentes ou já tenho amigos é fantástico - momento de rever todos, amainar saudades. Aquelas coisas boas que sempre me são reservadas quando viajo à trabalho. Sou uma privilegiada por viajar o Brasil e o Mundo fazendo o que faço.

No sábado, com 41 alunos, das 08 às 17 horas em aula - com uma pausa para almoço. Nesse momento sempre que tenho essas jornadas de dia inteiro (após uma viagem longa de ida ao lugar e uma de volta prevista para todo o dia seguinte ) faço jejum e aproveito para descansar. Por isso, fui para a casa, relaxar no sofá. Acabei adormecendo até que um amigo de longa data chegou para conversar antes da retomada das aulas à tarde. 

Ficamos hospedadas numa casa linda, ao lado do local das aulas. A residência é utilizada para isso, hospedar pessoas que vem para eventos e outras atividades.

No entardecer, após um dia inteiro de aulas, mais um passeio pela cidade com a equipe de mãe e filha, com meu sobrinho e esposa, encerrando o momento com um café num shopping da cidade - que ninguém é de ferro. 

Lá pelas 20 horas, retornamos à residência onde estávamos hospedadas e encontramos vários participantes do curso com suas famílias. O organizador do evento fez, no sábado de aleluia, um churrasco de petiscos para nós. Esse tipo de churrasco não necessita talheres e é bem simples: pedaços de picanha, linguiças, frango e pão francês fresquinho para que cada um pudesse fazer o seu sanduíche e se deliciar comendo e conversando. Que esse era o objetivo, afinal: conversar.

Eu adoro isso! A conversa. É a parte melhor de todo encontro.

Como era a convidada especial todos queriam falar um pouquinho comigo e a roda de conversa girou por horas. Por fim, foi o Giovanni quem sentou ao meu lado e iniciou um relato impressionante de sua vida.

- Eu tinha 17 anos quando tive um sonho, me disse. Sonhei com uma mulher. Morena, a vi de frente, com seu sorriso lindo, e de costas, com seus cabelos de cachos compridos até quase a cintura. Acordei sabendo: ela era a mulher da minha vida.

- Você a conhecia? perguntei.

- Não. Nunca a tinha visto. E, naquela época eu vivia num mundo que me condenou a 11 anos de prisão pelo que fiz com a vida de outras pessoas.

Giovanni então contou que aos 10 anos de idade esvaziou a casa de seu pai e vendeu tudo para comprar droga. Tornou-se traficante, com 10 anos, numa "favela" em São Paulo. Viveu nesse mundo do crime até os 17 ou 18 anos. Foi preso por assassinato, efetuou uma fuga, tornando-se um foragido procurado por 11 anos. Foi encontrado, preso outra vez, pagou sua pena, trabalhou para redução e dentro do presídio, no trabalho social, conheceu um homem que mudou sua vida.

Ele tinha, na época, 35 anos. Esse homem lhe falou de Jesus. Contou como Jesus mudou sua vida por meio da fé em Deus. Após conhecê-lo sentiu o desejo ardente de, ao sair do presídio, mudar totalmente sua vida também. No coração o sonho ardente de encontrar a mulher de seus sonhos. Aquela com a qual havia sonhado aos 17 anos de idade.

Mudou totalmente seu modo de vida. Decidiu procurar um lugar longe de tudo para recomeçar. No coração e na mente, sempre em busca da mulher de seus sonhos. Viveu vários relacionamentos, mas nunca era ela e os relacionamentos apesar de alguns longevos, terminavam com o sonho nas mãos - encontrar a mulher que acreditava estar destinada para ser seu amor pra toda vida.

Após vagar por várias cidades decidiu-se por Londrina por recomendação do irmão - ir para um cidade do interior, longe do mundo que vivia antes. Ali decidiu ficar e para continuar firme na decisão de mudar totalmente de vida decidiu participar numa igreja. Sempre em diálogo e amizade com o pastor, um dia ouviu:

- Giovanni, quero te apresentar para uma mulher da igreja, e apontou para um grupo de pessoas e para uma mulher em específico. O pastor achava que eles eram parecidos, que poderiam trabalhar na igreja juntos.

Ele olhou e ela estava de costas. Ao ver seu corpo e seus longos cabelos encachados caindo pelas costas começou a tremer. Era ela. Tinha certeza, mesmo sem ver, que era ela a mulher com que sonhara há tantos anos atrás.

O pastor a chamou e quando ela se virou ele achou que teria uma síncope. Era ela, a sua amada, em carne e osso, tal qual ele a sonhara tantos anos antes.

Ficou em choque...

E, mais ainda, ao saber que ela tinha namorado e ele estava ali, ao lado dela, participando na igreja também.

No entanto, a conexão entre ambos foi imediata. Ela tornou-se sua melhor amiga e seu amor secreto que guardava no peito como uma joia preciosa. Era incrível como conversavam, se entendiam, como se conectavam, tinham sintonia um com o outro, relatou.

Por muito tempo quis lhe falar de seu amor que só crescia, que se fortalecia e da paixão avassaladora que tomava seu ser quando pensava nela e quando estava com ela.

Mas, ela tinha um namorado e ele não sabia o que fazer. Não tinha coragem de se declarar, falar de seus sentimentos.

Nessa altura da conversa, a mulher que ele falava sentou-se à roda com sua filha, uma menina de 3 anos de idade. Ouvia, atentamente, o relato.

Eu perguntei:

- E como vocês estão hoje já que estão juntos aqui?

Ele continuou com o relato:

- Um dia ela me ligou e me disse:

- Giovanni, hoje meu namorado vai em casa falar com meu pai e me pedir em noivado. E contou que o pai e a mãe gostavam muito do rapaz e aguardavam ansiosos esse momento. As alianças já estavam prontas.

Ele também relatou que já sabia disso e que a dor no peito rasgava e fazia o coração sangrar porque sabia que aí não teria mais jeito, porque não teve coragem de falar para ela de seu amor e agora ela iria noivar para casar logo em seguida.

Eu perguntei:

- E o que você disse, o que você fez? Aproveitou o momento em que ela te telefonou e declarou-se?

Ele:

- Fiquei pasmo, sem fala, chocado. Chorei. Não consegui falar do grande amor em meu coração.

Então ela me disse:

- Giovanni, meu namorado vai me pedir em noivado, mas eu preciso te dizer algo: eu amo você!

- Quando eu ouvi que ela me amava meu coração quase parou. Eu gritei:

- Eu também te amo! Você é o amor da minha vida!

Então ele me contou que ela cancelou o noivado e voou para estar com ele.

Ele confessou seu amor, falou de seu sonho e os dois se abraçaram emocionados.

Iniciou-se, assim, uma nova relação. Agora eram mais do que melhores amigos. Eram namorados. Planejaram que deixariam o tempo passar para os pais dela se acostumarem com a mudança e então Giovanni iria pedir sua mão em namoro.

Eles aguardavam esse dia ansiosamente. Ele estava louco para beijá-la, mas tinha jurado a si mesmo que esse momento seria muito, muito especial e queria que acontecesse quando o pai dela liberasse sua mão em namoro. E o dia enfim chegou. Giovanni preparou-se, montou em sua moto e seguiu para a casa da mulher de sua vida.

No entanto, uma tragédia aconteceu. Ele sofreu um acidente. E foi internado num hospital. Os planos ruíram, o mundo acabou. Ele só fazia chorar no leito do hospital.

Então, ela veio visitá-lo. Abraçou-o, amorosamente, e lhe disse:

- Eu te amo meu amor! Com todo meu coração e minha vida. E, inclinando-se, beijou-o na boca pela primeira vez.

Foi o momento mais lindo da vida de Giovanni. Ele encontrara a mulher de seus sonhos e agora estava recebendo, no hospital, dado por ela, seu primeiro beijo de amor.

Alguns meses depois, ele comprou as alianças para o noivado. No dia marcado, pegou o carro e foi em direção à casa da namorada, o amor de sua vida.

Não chegou lá. Um motorista embriagado bateu em seu carro e Giovanni ficou entre a vida e a morte no hospital. Quebrou perna, fêmur, braço, teve de passar por várias cirurgias.

No hospital, ela foi visitá-lo. Enquanto o beijava, tomou sua mão entre as suas e colocou a aliança em seu dedo. Alguém havia lhe entregue a caixinha que ele levava na noite do acidente. Estavam noivos.

Com medo de que a vida a tirasse dele ou o inverso acontecesse sem que pudessem viver o seu amor, casaram-se logo em seguida à recuperação de Giovanni.

E agora estavam ambos ali, com a filha de 3 anos, que pretendem seja a primeira (desejam mais filhos), me contando essa história linda de superação, mudança total de vida, procura e luta pelo amor de seus sonhos e amor vivido, agora, em toda sua plenitude.

Eu percebia o amor presente, latente. Eu sentia o quanto se amavam e o quanto eram cúmplices entre si, a conexão de almas, ancestral e eterna, que juntos viviam.

Giovanni hoje é um empresário bem sucedido no ramo da alimentação, sua esposa é advogada e ambos são voluntários numa instituição de ajuda à dependentes químicos.

Ele virou a moeda de sua vida - um dia traficante, hoje alguém que ajuda pessoas a parar de usar drogas.

Por isso, estava ali comigo. Veio para buscar conhecimento científico nessa área para qualificar sua forma de intervir na realidade das pessoas que procuram ajuda para uma nova vida.

Giovanni encontrou a mulher de seus sonhos. Uma mulher linda, forte, extremamente corajosa, guerreira. Foi o que minha colega e eu dissemos para ela. Uma mulher que não desistiu e lutou com garra por seu amor, por seu sentimento. Ela tomou os rumos de sua vida nas mãos ao lhe telefonar para dizer que não podia noivar com o namorado porque o amava com paixão. Tomou todas as iniciativas para estar ao lado e no coração do homem que ela amava, sem medo do que o mundo iria pensar.

Por mais mulheres como ela. Que lutam pelo que acreditam, pelo que carregam no coração. Por mais mulheres que não desistem de seu amor. Que movem céus e terras e tomam o Norte em suas mãos fazendo a diferença quando acreditam nos sonhos e no amor. 

Por mais homens que fazem a reflexão sobre sua vida e tomam a decisão de mudar a rota custe o que custar.

Por mais homens que acreditam no seu sonho e vão atrás dele, de cidade em cidade, de lugar em lugar.

Por mais homens que sabem que encontraram a mulher de seus sonhos, o amor de suas vidas e não tem medo de lutar para que esse amor seja realidade e eternidade em suas vidas.

Por mais histórias lindas e tocantes como essas que tive o privilégio de ouvir e eternizar neste pergaminho do tempo...

 

Foto: fonte de água no centro de Londrina (por Maria).

 

 

Maria
Enviado por Maria em 14/04/2024
Alterado em 14/04/2024
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