Maria
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Eu conto a tua história - Dificuldades na Escola

 

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Dificuldades da Vida

Escrita no dia 19/03/2008 21:24

 

A gente sempre quer fugir delas. Mas temos de enfrentá-las. E você estava passando por um momento difícil na escola. E claro, os pais sofrem junto.

Quando escrevi esta histório no nosso blog ela tinha acabado de acontecer. Vou transcrevê-la aqui como estava lá, só revisando alguma coisa de ortografia. 

 

Filho amado, eu conto a tua história: 

 

As dificuldades dele começaram a se apresentar faz umas três semanas. Neste segundo ano ele já ganha nota em tudo. E sempre ia bem, com notas altas. De repente o tal do 2 em ditado. E seguida dele outras notas baixas em ditado também. 4, 6, 4 e assim por diante. A professora começou a escrever no caderno:

- Atenção.

- Estude mais.

- Preste mais atenção.

E eu fui ficando preocupada. Decidi ir lá. Conversei com a coordenadora e marquei hora com a professora. E conversamos então sobre o que poderia estar acontecendo. 

 

Ele lê com perfeição palavras, frases inteiras. E lê de verdade porque experimentamos trocar a ordem e ele lê igual. Tem uma letra linda. É caprichoso, querido, calmo, obediente, um doce de aluno me disse a professora.

 

Mas... no ditado... Troca letra, substitui palavras por outras, por desenhos. Parece que não ouve os sons corretamente. 

 

Combinamos que o levaria numa fonoaudióloga para fazer uma avaliação. E neste tempo eu comecei a me preocupar' com o que a professora havia dito - um possível diagnóstico... Claro que logo vem na cabeça da gente o pior. E eu passei um dia inteiro pesquisando sobre a tal da DISLEXIA.

 

Ontem levei ele na pediatra, Dr. Rosana, que o atende desde o oitavo dia e o conhece demais, inclusive às vezes lê o flog. Ela avaliou, fez testes com ele, de montar e desmontar aparelhos do consultório, testes que avaliavam a leitura e por fim fez um ditado. Ela pediu ao Júnior que escrevesse a palavra ditado. Ele quis saber por que.

- Porque sim, eu quero que você escreva!

- Mas eu quero saber por que? Porque na escola a gente copia essa palavra e não precisa escrever no ditado, porque ela é o nome do ditado.

- Mas eu quero saber se tu sabe escrever essa palavra.

- Mas é claro que eu sei.

- Então escreve. Prova prá mim que sabe.

E diante do desafio ele provou e escreveu corretamente.

Ela ditou várias outras palavras. E o mais incrível. As mais difíceis, como amarelo, cabelo, chão, bonita, ele acertou, e coisa fácil como, va, vo, vi e bebê ele escreveu assim: za, zo, zi e bb. 

 

Errou também a palavra caiu. Mas não que não sabia. Na hora não lembrou e não queria escrever. Rosana insistiu que ele escrevesse o que ele achava que era e ele escreveu: auiu.

 

Enfim, terminado os testes ela olhou os cadernos todos, as atividades e concluiu:

- Ele não tem nenhuma dificuldade aparente. Só se bem escondida. Faremos exames igual Audiometria e outros. Quem sabe uma avaliação de uma psicopedagoga, ou de um neurologista especialista em déficit de aprendizado.

Ele tem alguma coisa parecida com o TDAH, mas sem a hiperatividade. Mas, na minha opinião, o que acontece que ele acha tudo muito chato e perde o interesse.

Veja, ele acertou todas as palavras mais complexas, maiores e mais difíceis. Na verdade ele tem um ano de diferença dos colegas. É um ano mais novo, mas devido a intensa atividade social ele está com a cabeça num mundo mais atualizado, complexo. E se formos ver as cartilhas de hoje com frases como: O bebê tem um bico, não tem nada a ver com o contexto dele, com o mundo dele.

Ele precisaria de aulas que atraíssem sua atenção. Coisas mais atuais. Ele navega na internet sozinho, digita sites e navega neles, joga jogos difíceis até para alguns adultos, é inteligente e tem raciocínio lógico (ele faz cálculos mentais e nunca ninguém ensinou a tabuada, mas ele já entendeu sua mecânica e sabe fazer contas de vezes de cabeça).

 

Bom, o discurso de Rosana não foi de uma vez só. Eu que escrevi assim porque nem sei mais a ordem, visto que de vez em quando tinha de acalmar as lágrimas que saiam escondidas dele. De qualquer maneira temos de investigar e é o que vamos fazer.

 

É difícil pra ele também. Ter de se submeter a tantas provas, testes e interrogatórios. Mas sei que os profissionais fazem tudo de maneira melhor para ele. 

 

E mesmo assim continuamos a estudar. Ele na disciplina, devido as mentiras e invenções da semana passada, já está na cama dormindo. E assim acorda cedo, pode assistir um pouco de desenho enquanto a mami tá no computador e depois é hora de estudarmos juntos. E continuamos a estudar enquanto eu faço o almoço e lavo roupa ou faço outras coisas. Fazemos ditados de palavras, de frases e quando erra tem de escrever várias vezes o que errou. 

 

Então vem o banho, o almoço e o pai ainda treina leitura com ele, enquanto eu rapidamente lavo a louça antes de  levá-lo ao colégio.

 

Tá sendo puxado prá ele, mas já deu resultado. Hoje voltou feliz com um 8 num ditado e um enorme de um Parabéns da professora.

 

Enfim, compartilho essas dificuldades. É difícil aceitar a princípio. Ele parece sempre tão perfeito que a gente não concebe a ideia de que tenha dificuldades. 

 

Na verdade com isso eu vi, mais uma vez, que ele ainda é uma criança, embora pareça um pequeno adulto, com alguns sonhos e ideias de um adulto. Ele é uma criança e com suas dificuldades está me dizendo:

- Mãe, veja eu ainda sou uma criança. Tenho sete anos, mas sou criança. Me cuide e me veja como criança que sou.

 

E assim, vou seguindo o meu caminho de mãe. Às vezes acertando, outras errando. Às vezes, tendo de voltar na trilha já andada. Quase sempre tendo de parar para respirar e descansar.

 

E assim, vou seguindo os meus dias. Procurando ser perfeita dentro de todas as minhas imperfeições. Sentindo medo de não saber educá-lo e prepará-lo para o mundo como devo. Sentindo um amor imensurável por este tesouro que Deus me deu e querendo ser para ele uma boa mãe, uma mãe de quem ele um dia, sendo um homem, possa se orgulhar e dizer: Está é Maria Roseli, minha mãe querida que me ensinou a trilhar os caminhos da vida!

 

Texto e foto: Maria.

 

Maria
Enviado por Maria em 31/05/2024
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