Em uma pequena cidade, cercada por montanhas e árvores que dançavam ao vento, havia uma lenda antiga sobre os 'olvidos'. Conta-se que os olvidos são fragmentos de memória que, ao longo da vida, se perdem nos confins da mente. Às vezes, por escolha, outras, por necessidade, e há momentos em que simplesmente se vão, sem aviso, como folhas levadas por uma brisa suave.
Diziam os sábios daquela terra que os olvidos não eram vilões, mas guardiões dos momentos que talvez fossem pesados demais para carregar. Não é que eles apagassem completamente as lembranças. Eles apenas as deixavam repousar em um canto distante da alma, aguardando o momento certo para emergir novamente, caso fossem chamados.
Para alguns, os olvidos eram uma benção, ajudando a aliviar dores antigas. Para outros, uma maldição, como se estivessem sempre à procura de algo perdido, mas incapazes de encontrar. O segredo, segundo os anciãos, estava em aceitar que a mente humana não é um arquivo perfeito. Os olvidos nos mostram que somos feitos de momentos que escolhemos lembrar e outros que escolhemos esquecer – e, às vezes, o que esquecemos nos molda tanto quanto aquilo que lembramos.
Naquela vila, eles tinham um ditado: 'Os olvidos nos lembram que somos tanto o que carregamos quanto o que deixamos para trás'.
À você! Que eu tanto amo e que luta cotidianamente para se desvencilhar das dores e sofrimentos do passado. À você homem que, por bilhões e bilhões de anos do tempo do tempo, procura seus caminhos... Que possas encontrá-los e que eu possa estar entre uma pedra ou uma flor e outra de seu horizonte. Que um dia tuas mãos de amor possam me encontrar, me acolher em suas palmas e me carregar para o ninho eterno de teu coração. À você. Com amor!
Nota: De uma pequena palavra num livro antigo brota uma história, um conto. O livro? Época da Inocência. A palavra? Olvidos, dito em meio a um diálogo com o próprio ser. A palavra me tocou profundamente e logo nasceu a poesia 'Ando em busca de olvidos' já publicada em meu espaço. Agora chega a história escrita em coautoria com Aurora. Classifico o conto como uma Fábula Filosófica ou Metafísica - embora não tenha exatamente a estrutura de uma fábula clássica com uma moral explícita, o conto tem uma forte mensagem sobre a natureza da memória e do esquecimento, o que lhe confere um tom filosófico. As fábulas metafísicas, embora raras, utilizam alegorias para refletir sobre a condição humana, talvez, talvez - e o leitor é quem pode afirmar ou não - de forma sutil e poética.