Querido Joseph,
É onde minha alma vive, neste profundo e belo Vale do Amor. Nele caminho sem medo, de falar, de viver...
Sei que tenho meus rompantes de lágrimas e que, talvez, talvez, muitas delas sejam infundadas. Mas, desde tantas e tantas horas do tempo eu sei o que habita meu coração. Sei da força de uma luz que sempre tremeluzia e brilhava delicadamente em meu peito. Ela continua lá. Acessa e resplandecente iluminando a minha e a tua vida. Por isso eu preciso dizer que te amo. E choro. Me emociono ao escrever. É que é a verdade que vem à tona.
Há uma ligação forte entre a palavra escrita e os meus pra dentro que sempre tenho a impressão de que cada palavra desenhada no papel em branco é um pedaço de carne que arranquei de mim mesma e colei neste pergaminho do tempo. Por isso, choro. Porque dói, porque rasga tudo por dentro, arranha a alma, arrebenta com as veias e jorra o sangue em todas as direções em forma de palavras. Há tantas e tantas horas do tempo do tempo é assim. Por isso é tão dolorido. E, por isso, eu não sei como engolir cada mote de palavras que tenta sair pela boca em tua direção, não sei como construir diques e barragens para impedir que jorrem palavras dos meus olhos. Se souberes dessa medidas estruturais para esconder o amor me ensina. Talvez eu precise aprender a secar palavras e sentimentos. No entanto hoje... ah, hoje...
Sofro enchentes amiúde e cotidianamente. Sofro incêndios interiores que me avassalam a alma e, ao mesmo tempo em que me jogam no deserto e sua imensidão de areias quentes e escaldantes, fazem nascer oásis em meu coração para o teu habitar pleno e glorioso dentro o meu peito.
E então você me vem, feito um raio de luz suave desafiando a escuridão, como um relâmpago de verão acendendo chuvas para o vicejar das sementes. E minha alma saboreia aquela excitação prazerosa da tua presença me tocando a face com amor, aquela sensação suprema, só nossa, de estar num mundo em que nossos corações entrelaçados num só, se encontram e se miram no espelho, reconhecendo-se mutuamente na certeza de que foram desenhados assim, lado a lado, juntos, entrelaçados, para sempre... à felicidade da eternidade de amor.
De tua Marie, num outubro de 1889, escrita no banco da trilha diária à Abadia de Saint Michel.
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