Essa modernidade gasosa, fluida e efêmera parece dissolver o que antes era sólido e palpável. A tecnologia nos envolve com suas redes invisíveis, mas, paradoxalmente, nos sentimos mais isolados. O tempo do mimeógrafo, do xerox, era outro. Havia algo de ritual em tocar o papel impregnado pelo esforço manual. As palavras, quando impressas, pareciam mais permanentes, tangíveis, quase como se carregassem consigo o suor e o sopro daquele que as criou.
Hoje, tudo se dissipa rapidamente. Não há tempo para se repetir, para se rever ou até mesmo para ser plenamente sentido. A imaterialidade do agora nos dá a sensação de que tudo está à nossa volta, mas que nada de fato nos pertence. Sentimos falta do que não podemos mais segurar, do que não podemos revisar com o toque dos dedos.
Esse desejo de retornar ao imaterial – mas ao imaterial que tinha peso, que deixava marcas – talvez seja um reflexo de querer uma conexão mais profunda com o que é criado e compartilhado. No fundo, o desejo de se apagar e reescrever, de redesenhar a si mesmo, é a busca de sentido e permanência em um mundo onde tudo parece escapar. E o olhar aprisionado, esse que não quer mais sair de si, é a prisão da própria consciência, cansada de doar amor sem retorno, de ver a luz transformada em sombra, onde os versos repetidos, repetidos, repetidos, tentavam manter viva a chama do que, talvez, não possa mais ser mantido.
A dor, nessa repetição incansável, torna-se insuportável. Mas, ao mesmo tempo, sinto que há beleza nesse lamento, na saudade de um tempo em que o ciclo da criação e repetição era algo sagrado, e o poeta era não apenas autor, mas testemunha e artesão de sua própria alma. Tenho certeza (Ab)soluta de que não sou desse tempo. Queria voltar à época a qual pertenço.