Ele se foi. E ficou o vazio. Um silêncio que é mais do que a ausência de som, é a ausência de tudo. É como o mar que se retira da praia, deixando apenas a memória de sua presença. O céu, cinza como um campo sem flores, não sabe o que é a dor. O universo, em sua indiferença, continua a girar, sem se importar com as perdas humanas, com as partidas que nos fazem menores.
Eu, que sempre pensei que tudo era possível, agora vejo o quanto é impossível segurar o que é, por essência, fugaz. Ele se foi, como tudo se vai. A vida, essa coisa estranha e inconstante, leva e traz, sem que saibamos o porquê. O coração, esse ser irracional, continua a bater, como se ainda tivesse algo a esperar. Mas o que é esperar, senão uma ilusão que nos mantêm vivos enquanto estamos mortos?
A dor que me resta é uma dor cheia de palavras não ditas, de gestos que não se concretizaram. É um rio que corre em meu peito, mas que nunca chega ao mar. E eu, que já não sei o que sou, me vejo perdida dentro de mim mesma, presa na consciência de um fim que não sei como enfrentar. O grito que não sei dizer, o lamento que não se forma, são tudo o que me resta.
Ah, se ao menos o tempo fosse menos cruel, se as coisas não fossem assim, tão efêmeras... Mas o que é o tempo senão uma mentira que contamos a nós mesmos, para que possamos viver? E agora, ele se foi, e eu continuo a respirar um ar que já não tem sentido. O que resta, afinal, senão o que nos faz lembrar do que já não pode voltar?