Tem dias, como hoje, em que meu coração para com o mesmo abalo estranho que já senti tantas e tantas vezes e que parece fechar - assim, assim, subitamente - uma porta entre eu e o mundo exterior. E a mente se transforma - contraditoriamente - em um lugar bastante vazio e cheio de ecos. A alma, torna-se em um espaço próprio, fechado, onde o vazio e os ecos de mim (parte minha que só emerge no silêncio que desvanece o mundo ao redor) comigo mesma diante o espelho, coexistem num diálogo secreto. Então ouço o rumor esvoaçante e iniludível dos veludos e atavios que vestem a alma. Ao redor do pulso - guardiãs do Tempo e desse Universo -, as três fitas de Maria - preta, azul e vermelha -, oscilando absurdamente aos ventos interiores na última dança da noite com o Sol (num elo sagrado e eterno) antes de seu entardecer diário. Então a mente capta o sentido velado dessa íntima dimensão (terreno de ecos e sombras) onde a dança é uma despedida diária, mas também uma promessa: a de que, após a noite, o ciclo continua, e o Sol renascerá, trazendo consigo uma nova dança, uma nova melodia para as fitas e para o coração que aguarda a próxima batida, a próxima onda de sentimentos e mistérios.