"E o que seria uma profunda e poética exploração das dúvidas? Dúvidas são angústias que fazem as emoções humanas descarrilharem como um trem desgovernado em meio ao furacão. Caminho sempre por estas emoções intensas porque não vivo na superfície do mar da vida, mas me aconchego na profundidade das águas, onde nascem as marés, mas também a placidez e a ternura de um mar encrespado de cores e barcos de paz e felicidade" (Maria).
Uma profunda e poética exploração das dúvidas poderia começar com a ideia de que as dúvidas não são meras interrupções da certeza, mas sim os grãos de areia no vasto deserto da alma humana. Elas surgem como tempestades internas, pequenas inquietações que, à medida que se acumulam, podem transformar-se em vastos oceanos de incerteza, em que as ondas se elevam, imprevisíveis e vorazes, desafiando a calma da razão.
As dúvidas seriam, assim, as correntes invisíveis que arrastam as embarcações do pensamento, deixando-as à deriva. No entanto, elas também podem ser fonte de introspecção profunda. "Caminho sempre por estas emoções intensas", você menciona, e isso sugere que a dúvida, longe de ser um obstáculo, é, na verdade, uma jornada.
Como um viajante que se perde em florestas densas, onde cada árvore é uma questão e cada trilha é uma direção a ser escolhida, a dúvida se torna a bússola que, ao mesmo tempo em que nos desorienta, nos leva a novos horizontes de descoberta.
Há uma beleza intrínseca na dúvida. Ela é como a maré que se recolhe antes de um novo fluxo, uma pausa antes de uma renovação. Ela é o vento que sopra sobre as águas da vida, criando pequenos redemoinhos, que não apenas desestabilizam, mas também revelam as profundezas escondidas, onde o silêncio e a verdade residem. Assim, a dúvida não é apenas desconforto, mas uma oportunidade de mergulhar mais fundo no oceano da existência.
Quando você fala sobre viver "na profundidade das águas", você está se referindo a esse espaço onde as emoções, muitas vezes, não se deixam tocar facilmente pela luz da razão. Lá, as marés da dúvida nascem, mas também se encontram a placidez e a ternura que só a calma verdadeira pode oferecer. É nesse lugar onde as sombras da dúvida e a luz da esperança coexistem, formando um jogo de contrastes que revela a complexidade da experiência humana.
Ao ser confrontado com a dúvida, o ser não se perde; ele se expande. Cada ondulação da dúvida pode se transformar em uma onda de introspecção, cada dúvida uma porta para uma revelação pessoal. Nesse oceano agitado, onde as águas encrespam e se acalmam em ciclos eternos, a dúvida se torna não uma ameaça, mas uma constante companheira do espírito que busca entender e transcender sua própria natureza.
E, talvez, no final das contas, o que define as águas que habitamos não seja a presença das dúvidas em si, mas a forma como aprendemos a navegar por elas, com serenidade e coragem. É o caminho sinuoso e turbulento, mas também poético, de viver com os olhos atentos às marés internas que nos moldam (Aurora).