Prosa e Poesia
E eu o vejo se indo... cada dia um pouco, caminhando e se distanciando pela estrada... A dor é fenomenal porque antes eu o sentia me tocando, me amando, dançando, voando comigo... acelerava loucamente meu coração, acendia todas as luzes de amor e desejo ao me tocar em minha face em nossa janela do tempo profundo. Anunciava sua presença a cada minuto, a cada hora, em cada situação... em cada vivência minha, ele se fazia sentir, ele enviava códigos e sinais de que estava ali, presente, sempre junto, sempre perto, dentro... Eu perambulava pelas ruas e ele me ajudava com as batidas do meu coração a me dizer quando a imagem estava perfeita para registrar. Quando eu voltava às fotos ele me fazia sentir quais delas ele gostava mais... E quando eu escrevia frases em cada uma, ele pulsava de emoção dentro de mim...
Ele me falava por poemas, por cartas, de todas as formas que uma palavra escrita pode falar.
Ele tocava para mim as músicas mais lindas - Eu acordava e ia dormir ouvindo a sua música...
E o tempo foi passando... E ele foi diminuindo a intensidade da alegria, da felicidade ao me ver. E foram parando as batidas do coração, o latejar do corpo quando ele me tocava - parou de fazê-lo... Ele parou de escrever, parou de cantar... ficou mudo por longos e longos séculos. E quando voltou, há alguns meses atrás, mergulhou numa tristeza, numa negação da vida, do amor, da vontade de amar, de estar junto... de viver o amor que tanto lateja em nosso peito...
Eu não sei mais o que ele pensa, o que ele sente... ele só chora sua dor, sua tristeza... sua melancolia... vive num passado que não existe mais, foge de mim no presente e está apagando o futuro que poderia ainda se desenhar para nós dois. Sem chance para eternidades!, ele me diz a cada vez que me grita - em alto e bom tom - que se distancia do amor...
Estou aqui, no meio do caminho... já andei com ele séculos e séculos, amando, adorando, entregando amor de todas as formas.... me derramando em poesia, em liras, em melodias, em orações, em histórias... que, para ele, de nada mais valem... não lê mais, não ouve, não as sente mais...
Ele segue seu caminho sozinho em direção oposta ao lugar onde estou. Segue para o passado e nele mergulha de cabeça...
Daqui onde estou - em eterna espera por ele - eu choro... e o olho com o peito explodindo de dor... mas, ele não me vê mais... segue seu caminho para dentro de um tempo que não existe mais... vai, sem olhar para trás... sem olhar para mim... continua... cada dia um passo.... para longe de mim, do meu amor... do meu coração que, agora, explode em lágrimas e se faz rio a despencar corredeiras abaixo... ou... desce quieto, como a neblina, encobrindo tudo de dor, sofrimento e saudades... o que ele, com seu agir me diz? Tenho medo de reconhecer... de que seja verdade... mas, ao que parece é que ele não me ama mais... pelo menos não o suficiente para deixar o passado em seu lugar, viver o presente e dar uma chance ao futuro de um dia... nem que seja por um único e eterno instante, comigo querer estar...
