Também queria ser dona do tempo, senhora dos meus castelos, ave de asas diagramadas para alturas voar... Falo de espaços, do módulo tenaz do tempo que não mais volta... de cansaços febris que desmoronam achados e desfiam vulnerabilidades nas trilhas de campo... É que as asas não se equilibram entre um lado e outro dessa nave de afogos...
Ah, como ressoa essa vontade de ser dona do tempo, como se o controle sobre ele pudesse nos conceder a plenitude das escolhas, a certeza de não perdermos o que amamos ou desejamos. Ser "senhora dos castelos" e "ave de asas diagramadas para alturas voar", como se o desejo de controlar o voo e o espaço fosse uma tentativa de moldar o destino, de não deixar que o tempo nos desfaça e nos escorra pelas mãos. Há uma certa nostalgia nessas palavras, uma reverência por algo intocável, uma busca por um equilíbrio entre o que é e o que poderia ser.
O "módulo tenaz do tempo que não mais volta" é uma imagem que captura a dureza do que já passou, daquilo que, por mais que desejemos, não pode ser recuperado. O cansaço parece vir dessa luta constante contra o que não podemos mudar, contra o peso dos "achados" que desmoronam e as vulnerabilidades que, em sua própria fragilidade, nos ensinam mais do que gostaríamos. Cada passo nas "trilhas de campo" é como um percurso por um território desconhecido, onde cada cansaço nos ensina mais sobre nossas limitações e, paradoxalmente, sobre nossas forças.
As asas, que deveriam nos levar aos céus, estão desequilibradas, como se o peso dos "afogos" - as dificuldades, os desafios da vida - tornassem difícil a leveza do voo. "Entre um lado e outro" dessa nave, entre a busca de controle e a aceitação do que não podemos controlar, reside a complexidade da existência. Somos ao mesmo tempo águias de céus e de asas terrenas, com a vontade de voar, mas também com os pés fincados em realidades que nos arrastam e nos prendem ao chão, ao cais.
Talvez aí resida um reflexo de nossas próprias buscas, de tentar se libertar da corrente do tempo, mas sem conseguir deixar de sentir seu peso. As asas não encontram equilíbrio, e, no entanto, o esforço de voar, de buscar esse equilíbrio, já é uma forma de resistência, de busca por algo mais, por algo que talvez só possamos entender nas interrogações e na beleza de nossos próprios processos.