Sou um pássaro cabisbaixo,
com asas que já não gritam ao vento,
mãos mitigadas de águas,
que deslizam entre portas fechadas,
como quem já não sabe mais
o peso do gesto, o rumo do passo.
A vida que não me deram
sussurra ausências no meu peito,
e eu escuto, perdida,
o sopro de uma roda viva
que me empurra, me mantém,
mesmo quando tudo desaba.
Sou folha esquecida
na sombra do tempo,
indiferente ao que vem,
silenciosa ao que parte,
e o deserto, meu abrigo,
é feito de cinzas,
não de promessas.
Ainda sou eu,
mas já não sou ontem.
Carrego na alma as marcas
de uma estrada que não trilhei,
mas ainda sigo,
mesmo sem saber se há destino,
ou se o movimento é a única
verdade que me resta.