Não desdenho o enigma,
nem o problema ou a relação do "si" comigo mesma.
Eu me contemplo,
me desdobro em camadas desconhecidas,
e, ao final, rio de mim mesma.
Se algo me falta,
é aquele "a mais" que nunca tive.
Talvez, nem precise.
Mas ainda o necessito,
como quem anseia
e almeja aprender o infinito.
Falta-me o conhecimento
para somar, subtrair, dividir...
Mas, por outro lado,
prefiro as totalidades:
o caos em sua plenitude,
o contraditório que pulsa vida,
o homem de Pascal, perdido e triunfante,
tocado pelo infinito e, ainda assim, verdadeiro.
Quero o sorriso da Gioconda,
ambíguo e eterno,
mais que o rosto prometeico do ferreiro de Marx,
preso à forja, alienado,
sonhando ser deus,
mas esquecido de ser homem.
Eu não desdenho o enigma.
Eu o acolho.
Eu o vivo.
E ao me desdobrar,
descubro que sei o que me falta:
Não o "a mais" inalcançável,
mas o simples olhar
que entende o ser,
que aceita o riso,
e que encontra na dúvida
o próprio existir.