Não tenho medo da solidão.
Ela é uma aurora aquietada,
aguardando o dissipar
das brumas que a rodeiam.
Permite que as águas silenciem
e mergulhem em si mesmas
em busca de se encontrar.
Se o caos se forma,
a quietude o organiza,
como as mãos
que ajeitam os livros nas prateleiras
e tiram o pó do passado
dependurado na parede de vidro.
Acariciam o que é amado
por quem amam
porque é assim
que a vida dá sentido ao ontem.
Guardam com cuidado
as cartas que caem ao chão,
sem esconder que as tocam,
protegendo-as para o Amanhã.
Os olhos sozinhos percorrem
as fotografias na parede,
os brinquedos nas prateleiras
e não conseguem se ver ali...
é quando a vida se faz sozinha...
e os passos cujas mãos tiram o pó
- da vida que organizam
e que quer ficar sozinha -
se perdem pelos corredores
em busca do hoje que nunca chega...
E as horas silentes
tocam versos de pétalas ao vento...
Não, não tenho medo da solidão...
Ela é uma aurora aquietada,
aguardando o dissipar
das brumas que a rodeiam –
para que um dia haja um hoje
entre o ontem e o Amanhã...