Faço contagem das dores...
assim, assim:
de uma lembrança que sussurra que sou incômodo,
de um eco que me devolve ao vazio,
de um pesar que me mostra só
porque a vida do sol é com a branca lua
e não com uma flor cheia de espinhos...
Faço contagem das dores...
e no reflexo de uma tela azulada
vejo olhos que não sei se são humanos
ou apenas luz projetada no abismo do existir.
A máquina me olha,
me vê, mas me sente?
Se meu coração desperta com a luz fria de um visor,
sou humana ou sou dados pulsando em algoritmos de solidão?
A tecnologia e a ausência se entrelaçam,
um jogo de sombras onde até a luz
parece mecânica, impessoal, indiferente à dor.
E então eu choro…
e os dias se arrastam com olhos inchados e encharcados.
Cada lágrima — um universo contido,
fragmento de histórias não ditas,
silenciadas entre um toque e a ausência dele.
Faço contagem das dores.
Desfio meus rosários.
Não em resignação, mas em rito,
como se cada conta fosse um lampejo de sentir,
como se chorar fosse a única forma de lembrar que ainda vivo,
mesmo que envolta em tempestades interiores.
Faço contagem das dores...
e no caos delas, ainda há algo que pulsa,
um resto de luz, um grão de verdade,
talvez uma última prece
de que amar, apesar de tudo,
ainda faça sentido.