Maria
Prosa e Poesia
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Textos

Fumaça de Absinto

Não vivi no tempo deste canto de encanto. Não conheci a voz de Pellegrini, nem a dança de Bigottini, mas sei que vivi aqueles tempos de Potyer, Saqui e Forioso. Nada sei das tragédias dos homens, das guerras e conquistas que criavam abismos entre duas faces de cada lado das trincheiras. Não vivi essa era das revoluções, nem me curvei as armas e mãos que cortavam cabeças enquanto o mundo dormia em sonhos de paz. Certamente meus olhos estariam vidrados entre as páginas de Ourika de Duras, sucumbiriam aos romances de Madame Contin. Ah! Quem seria eu se lá tivesse vivido? Uma cortesã de Angoulême? Uma ninfa em Paris? Uma dançarina de Agnese de Paër sendo lida entre os concertos na rua de la Ville-l'Evêque? Ou quem sabe uma princesa da Secília visitando o café Lemblin enquanto O Constitutionnet, o Minerve e o Chateaubriand circulavam nas mãos que teciam proscritos de ontem? Ou seria uma mulher comum - essa - de olhar absorto na fumaça do absinto, escrevendo cartas jamais enviadas, em lenços de linho bordados com palavras que só o tempo ousaria ler?

Maria
Enviado por Maria em 05/05/2025
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