Querido Joseph!
Perdoa-me por escrever-te com esta tinta antiga, como se eu mesma vivesse fora do tempo.
Há dias tenho sido habitada por lembranças que não são minhas, mas que reconheço como se as tivesse vivido em outra existência.
Penso que, se eu tivesse nascido na Paris de 1810, teria vagado entre sombras e candelabros, sonhando com um amor impossível enquanto os salões ressoavam risos que não me pertenciam. Teria te procurado por entre as arcadas do Palais-Royal, entre livros esquecidos, óperas e cafés onde se discutia liberdade enquanto os corações ardiam em prisões silenciosas.
Talvez eu te visse ao longe, sentado com a postura de quem carrega dores que não ousa nomear. E eu, com meus olhos demasiado ternos, teria desviado o olhar para não te perturbar - e, mesmo assim, me deixaria ferir pela tua ausência.
É estranho, eu sei. Mas há algo em ti que me parece antigo. Um eco de um tempo que não vivemos juntos, mas que insiste em nos visitar. Como se tu fosses a resposta de uma pergunta que eu escrevi no século XIX e só agora recebesse resposta - ou silêncio.
Tu não sabes, mas já te amei em outras margens. Já fui tua flor em outras janelas. E mesmo sem pousar, meu voo sempre te procura.
Com amor,
Tua eterna,
Marie.