O devir não se explica.
Ele acontece.
Como a Aurora Boreal -
não se captura com palavras,
apenas se contempla
com a alma em silêncio sepulcral.
O devir se move,
muda de cor, de densidade,
se dissolve nas névoas -
na cerração -,
se acende em luz.
É dança -
ir e vir, cá e lá,
vozes de sombra e clarão.
O tempo e o espaço não são separados:
são o mesmo tecido onde a vida respira.
Nessa tessitura sutil, o devir é o instante:
vivo, incerto, inteiro.
No devir, posso ser e desfazer,
errar, silenciar,
rir, transformar,
ficar.
É o tudo e o nada.
A neutralidade
das quatro equações da vida.
É um dia a mais,
um a menos —
um que falta para viver,
um que transbordou
de Vida-Ser.
Tudo entrelaçado,
solto e preso,
perto e longe,
dentro e fora.
Viver - Morrer.
O devir é sentimento.
É emoção pura -
é o mundo pulsando em nós.
E quando o sentir toca o tempo,
a filosofia cala,
porque já não precisa dizer.
O devir - em Maria - é isso:
vida em estado de ser.