Não quero lapidar nada.
Quero a palavra
crua.
Nua.
Assim. Assim.
Do jeito que nasce.
Pedra bruta.
Que rasgue os olhos de quem lê.
Que corte a pele de quem toca.
Que faça bater o coração
até explodir -
como explode o meu
enquanto os dedos batem,
intempestiva e atravessadamente,
as teclas do piano.
Não quero lapidar nada.
Quero que a palavra
desça pela garganta
rasgando tudo.
Que entrave no peito
até se formar um nó,
gigantesco, absurdo,
como esse que me sufoca
a alma.
Quero que doa no outro
como dói em mim.
Quero que seja
tão real,
tão absurda,
tão forte,
tão intensa,
imensa...
Como tudo que sinto
em meus pra dentro.
Como tudo que explode...
em magma efervescente
de palavras que agora...
riscam... afiadamente
as páginas
já mortas
deste meu
pergaminho do tempo.