Sim, já atravessei madrugadas de dor,
já tive dias assim...
dias em que escrever
é o único jeito de respirar,
de não se afogar no próprio peito.
Mas não sei transformar
o grito sufocado em palavras...
me falta o azedo do tempo,
o medo do morrer
no ar úmido dos vagalumes...
Não sei transformar
um fragmento em poema, não sei...
nem sei deixa-lo assim,
bruto, nu, como precisa ser...
atravessado de amor,
pulsando vida, dor,
amor, silêncio, entrega...
Por isso, queria
que me ouvisses com a pele,
com o peito, com a alma aberta...
nem que fosse por uma vez só,
me ouvisses com a alma aberta...
o coração despido de medo...
Sabes que já atravessei
madrugadas de dor,
já tive dias assim...
em que a alma destila
essa beleza triste,
quase sagrada,
de quem ama para além de si,
de quem transborda sentimento...
mesmo que ninguém o vê...
ninguém o sente...
ninguém o escuta...
por isso... queria...
queria que me ouvisses assim...
me ouvisses com a pele,
com o peito, com a alma aberta.
Queria que me ouvisses assim...