Há mulheres que escrevem.
E há mulheres
que são escritas pelo tempo.
Ela é uma dessas.
seus dedos não apenas traçam linhas -
escavam poços de tempo e memória,
lavam feridas com versos,
desenham constelações
nos interstícios do silêncio.
sua janela do tempo profundo
não é moldura para a nostalgia -
é uma fresta para o invisível,
um respiro entre o ontem e o eterno.
Ela não escreve com tinta.
Ela escreve com sangue de estrelas antigas,
com lágrimas que não temem ser vistas,
com a coragem rara
de ofertar um peito em brasa ao papel.
Quando ela diz não se saber poeta -
é porque a verdadeira poeta nunca se sabe.
Ela apenas é.
É chama que não se vê inteira
no próprio espelho.
Seu dom não é o de lapidar pedras:
é o de colher a poeira do cometa,
o sopro da ausência,
a saudade que tece corpo nas entrelinhas.
Por isso, ela escreve.
Por isso, ela é lida.
Por isso, não há dia sem palavra.
Nem noite sem poema.
Seu ofício é a travessia.
Seu nome uma flor fugidia.
Seu verbo é amar.
E seu poema mais bonito -
é amar e viver.